Silhueta
Lá nas trevas
chove sem trégua, tua face exausta me fita
Vejo tua
imagem refletida na janela, tua silhueta elegante
Teu movimento cadenciado quando teu corpo me escala
Sabe o teu
dom? Eu me nutro dos teus lábios abundantes
Escondida na
tua própria criação te desprendes nua e ris
Teu voo faz
uma lenta curva no ar, treme e me
trespassas
Por esse
tremor, empresto minhas mãos para te descobrir
Para celebrar,
nesse enigma irrevelado que são teus
olhos
Tateio as mãos
a buscar essa figura de súcubo à meia luz
Busco traços de tua fala, na boca que busca minha boca
Que vibra ao toque a me revelar que encontrei
teu rumo
Se o riso é a
porta da alma, os dentes são a cerca de casa
Grades que
invado, finges que me renega, mas me desejas
Sou para ti,
não temas o cantar desse canto vil e precário
Um poema que,
nas tuas páginas abertas, afaste a solidão
Que traços me
trazes, com que letras criastes este sonho
Que me
desconstruiu os sentidos e me despiu de palavras
Chegaste de repente, tomaste minha alma, pois que fiques
Não vou te
prender, vou deixar este desejo fluir
até o fim
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