Na busca da fonte do poema naveguei contra a corrente
Viajei sob o brilho azul dos equinócios felizes da infância
Eu tal qual pássaro, voava livre sobre o magma calcinado
Doces chuvas primaveris abraçavam as imagens ao redor
Cenas caras que abriguei sob o cobertor de meus versos
Inesquecível som distante das crianças e seus folguedos
Essa foi a gênese de toda minha ânsia na escrita poética
Nestes tempos o pássaro já não quer mais ousar seu voo
Hoje o perigo mantém as crianças presas dentro de casa
Pobres histórias suspensas nas linhas do caderno da vida
E mesmo o sino dominical daquela miúda igreja da praça
Não toca mais, proibido por aqueles a quem tudo magoa
O mundo está tão deformado e vago que não reconheço
Os dias sucedem as auroras em vão pois nada se constrói
Uma névoa cinza, pálida e vaga oculta a lágrima da ironia
Mas o poema se fará, tão infinito qual árduo manuscrito
O destino me deu a noite e canetas como lâminas afiadas
Contra os livros de parágrafos sem sentido e donos cegos
Fadados ao oblívio, tal quem esbanja a nulidade em livros
Também deu-me esta sombra que escreve como outro eu
A palavra não é o acaso, antes um passo rumo a novo dia
Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
sexta-feira, julho 29
Sombra
quinta-feira, julho 21
Apego
Ao
buscar por si mesmo na ação, o ser ou seu vulto
Tão mais faz distante de sua real natureza e impele
Ao apego à forma humana que desintegra o espírito
Pois antes persevera a sombra d’um vago desamparo
Ou uma visão dividida separada dos cordões da vida
Submerso
na negrura do infinito, atado a abstrato nó
O ser se vê na carne, olvidado de sua condição divina
Atrai o imponderável, corre silenciosamente o espaço
Do pensamento sempre preso a coordenadas fictícias
E alheio à sombra interior e seu verdadeiro eu oculto
O
corpo resiste nessa escalada em busca de respostas
Nas dobras da ilusão onde gritos falazes da existência
Imaginam o estado de plenitude, um acumulo de bens
De coisas táteis, um quê de matéria que se condense
Pela afirmação da propaganda em exaltar ao consumo
Mas
o ser é fusão de alma e fogo, antes que substância
É enfim a forma de plúrima condensação em cor e som
É a senda em rumo ao horizonte, um arco-íris multicor
O ser não é, apenas está, u’a mescla de deus e demônio
Tramada no ramo solitário, obscuro e belo da erudição