quarta-feira, abril 26

Como Amar

Não se entenderá sobre amor associando-o ao curso das horas

E nesse processo pode julgar-se, sem razão, que todos amores

Carecem do passar de um longo tempo para se tornarem vivos

 

Como não amar-te agora se és a melhor imagem de eternidade

Estás além da ideia de tempo que é o templo fugaz do efêmero

Que a tudo consume, a beleza, a força a virilidade e a si mesmo

 

Não se entenderá o amor se julgá-lo à luz dos erros do passado

O passado foi apenas uma lição que hoje se chama experiência

Quem sabe química, sabe que são necessárias várias até acertar

 

Como não te amar já se és qual minha própria imagem refletida

Se és o que tenho de especial e tudo que desejo desejas também

Os opostos só se atraem na física, não na vida e menos no amor

 

Não se entenderá o amor se não se vivê-lo intenso e sem limites

O amor não aceita que se o fracione, esquematize ou comprima

Para que caiba na expectativa de quem vê a vida de forma linear

 

Como não te amar se na tua ausência minh’alma chora de vazio

Se és o carinho que me acolhe o espanto na hora que a dor vem

Recolhe meus pedaços me refazendo como o melhor que já fui

 

Não se entenderá o amor se não souber do fogo que nos assoma

Arrebata nossos corpos, tirando-os de nosso controle de mortais

Fazendo-nos deuses e o amor a elevar-nos às nuvens do Olimpo

 

Como não te amar se em meu projeto de vida está tua imagem

Se és meu alicerce, as colunas que me sustentam e meu telhado

Lembrar de ti é lembrar do cheiro das flores, da doçura do mel

 

Não entende de amor quem procurar porquês em nosso amor

Nosso amor apenas é. E o será. Nosso amor é um hino à vida.

Teriam Romeu e Julieta levado tempo para se apaixonarem?

 

terça-feira, abril 25

A Forja

É imperioso acreditar nos sonhos para se compreender a poesia
Bem antes das respostas situa-se o entendimento das perguntas
A notória inclemência do tempo se opõe dura ao conhecimento
Uma só existência é tão curta para tudo o que deve responder
O que quero, o que devo e o que posso coexistem todas horas
E impende que saibamos diferenciar a farsa, da inocente ilusão
Saber disso não se mostra nos brados dos discursos inflamados
Antes, nos pequenos silêncios interiores que a vida nos permite
E quando se acha tudo se fez claro, explicável pelo nexo lógico
Há a poesia que, com afeto, a nada pacifica e a tudo questiona
O poema não germina das elaborações magistrais dos intelectos
Reside adormecido nas entranhas, nutrido das dores de amores
O verso aguarda, qual aço na forja, o ferreiro que o fará lâmina
Para reabrir as chagas indeléveis da alma, ao expor seus medos
E qual a argila que ganha vida na mão do artesão, desses medos
Moldará o orgulho do poeta ao saber que a vida deve ser vivida
Intensa, pura, além das aparências, sem recuar ou medo de sofrer
Admitindo que até nas perdas seu coração pareceu quase imortal
Pois não sabemos onde estará a linha de chegada na prova da vida
Ao apagar das luzes, o romance e os sussurros mostrarão seu valor
O mesmo poema cantará tantas chegadas quanto outras partidas
Quão vazio seria o ressoar da voz se não tivesse histórias a contar


Triplo

O dissidente
 
Ontem, ele era homenageado nas briosas bocas da nação
Hoje, na verdade, é o vendido, o traidor, o canalha servil
Não é o que você é, mas o momento em que se encontra
 
A palavra
 
Aos poetas não se aplica a máxima popular que assim diz
A palavra é de prata, contudo o silêncio é feito de ouro
O silêncio da poesia é sinônimo de que morreu a palavra
 
O poeta
 
O mundo não te escuta poeta a auscultá-la em sua insônia
Um Quixote a cavalgar pelas sombras, teimoso, belo, louco
Só porque insistes nesse canto vívido de amor e esperança


segunda-feira, abril 24

O erro da matemática

Ela derrubou o seu corpo, o rosto perfeitamente maquiado
Do alto do edifício, levando na bolsa umas fotos de família
Que guardara, estrategicamente quando decidiu por partir
Em cada orelha uma pérola falsa, mas brilhantes como o dia
Na boca levou muitas das palavras que não foram (mal)ditas
E guardou em torno do decote, para alguém, a sua equação
Debruçada sobre o peito a frequência de sua própria queda
Levou também tantos adeuses, que nem os conseguiu somar
E nas pernas ficou o carimbo das cartas que nunca recebeu
Desprendido da pele num impacto surdo que só a queda faz
Isso é a vida, amor. Uma queda. Tentar agarrar-se numa mão
E ao descobrir a essência de tudo, soltar-se para, n’um salto,
Sentir a cidade que vem chegando tão veloz sob os seus pés
Nas linhas da dedicatória escrita com batom atrás das fotos
A mulher explica sobre essa escolha, mais curta para o chão
Por saber geometria, observa só bocas paralelas na sua vida
Pelo que conclui que tudo irá se juntar, somente no infinito


sábado, abril 22

Amar já

Não se entenderá sobre amor associando-o ao curso das horas
E nesse processo pode julgar-se, sem razão, que todos amores
Carecem do passar de um longo tempo para se tornarem vivos
 
Como não amar-te agora se és a melhor imagem de eternidade
Estás além da ideia de tempo que é o templo fugaz do efêmero
Que a tudo consume, a beleza, a força a virilidade e a si mesmo
 
Não se entenderá o amor se julgá-lo à luz dos erros do passado
O passado foi apenas uma lição que hoje se chama experiência
Quem sabe química, sabe que são necessárias várias até acertar
 
Como não te amar já se és qual minha própria imagem refletida
Se és o que tenho de especial e tudo que desejo desejas também
Os opostos só se atraem na física, não na vida e menos no amor
 
Não se entenderá o amor se não se vivê-lo intenso e sem limites
O amor não aceita que se o fracione, esquematize ou comprima
Para que caiba na expectativa de quem vê a vida de forma linear
 
Como não te amar se na tua ausência minh’alma chora de vazio
Se és o carinho que me acolhe o espanto na hora que a dor vem
Recolhe meus pedaços me refazendo como o melhor que já fui
 
Não se entenderá o amor se não souber do fogo que nos assoma
Arrebata nossos corpos, tirando-os de nosso controle de mortais
Fazendo-nos deuses e o amor a elevar-nos às nuvens do Olimpo
 
Como não te amar se em meu projeto de vida está tua imagem
Se és meu alicerce, as colunas que me sustentam e meu telhado
Lembrar de ti é lembrar do cheiro das flores, da doçura do mel
 
Não entende de amor quem procurar porquês em nosso amor
Nosso amor apenas é. E o será. Nosso amor é um hino à vida.


quarta-feira, abril 19

Virgula

Há vezes que sento-me na solidão do aconchego ilusório  desta cadeira
E como hábito, um rito, um clamor ao qual não sei negar, me adjudico
Para ir buscar dores nas entranhas que já vi, que já ouvi ou que já vivi
Letras quais semeadas brotem lágrimas que sejam gênese deste poema
Em um canto de lamúria muda, o que revelo esconde a pessoa que sou
Onde caiu a vírgula, majestosa, tudo transforma e assim te conquistar
Definindo minha presença na tua vida, dentre os desejos mais solenes
Outros tão íntimos, em forma de poesia pálida derramada neste papel
Quem sabe desejos eletrificados, não importando se é amor ou paixão
Os sonhos que não se pode ler, ora que se ocultam, venhas despontar
Meus olhos já vislumbraram o irreal por trás de saudades petrificadas
Basta dessas horas mastigadas a instigar agonias que não se esquece
Cessem os conceitos ou postulados obsoletos para controlar a palavra
E do reproche nos caminhos pré-traçados e coreografias tão corretas
Busco a delicadeza na fúria, o trovão no sopro e um abraço infindável
Quero desconfigurar o mundo, sem medos cotidianos ou unhas roídas
Um só minuto e ir de encontro ao que sinto sem enganar meu coração
E ainda que não haja mais dor a ser sentida, ainda transpirem emoções
Na página virada rumo a amanhã, sentir teu cheiro em forma de poesia