Escurece cedo nos dias de inverno sem o rubor
próprio do verão
Refegas de uma brisa glacial se
entremeiam aos céus enevoados
O cinza abate os contrastes cunhando um mundo
bidimensional
Nesses entardeceres
ponho-me a refletir sobre as vidas desiguais
Epidemias, fome e sangue e o espírito do mal
observa de esquiva
Como se o Deus, enfurecido,
chicoteasse frações da humanidade
Noutro lado olhos verdes,
muros altos e o terrível cheiro do ouro
O happy-hour principia com a
sexta badalada dos sinos da tarde
Elevo meu pensamento acima
das nuvens e lá há um cristal azul
Entre as estrelas, na Terra
envolta no azul vive um pálido homem
Por curvar a cabeça aos poderosos, não vê o breve
voo do pássaro
Nem se quedarem
em silêncio os anjos apagados do esquecimento
Onde ficava a floresta, a terra foi desnudada diante do observador
A cada negro anoitecer há mais chão rude de bruta
paisagem lunar
As poucas árvores restantes
sonham sonhos de tormento e de dor
E o sibilar do vento é como o
lamento de uma mãe em luto silente
O poeta canta seus cânticos
solitários para as almas angustiadas
Tece no poema um último alento
para navegantes desconsolados
Seu verso recompõe os desejos
já lassos caídos à beira do abismo
Como se a cólera divina, tal
escudo, lhe poupasse quando escreve
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