As gralhas famintas passam em revoada no vermelho
das tardes
Seus bicos em alvoroço rompem o silêncio vespertino
destes dias
Meu espírito as observa em contraste com a loucura
das cidades
Onde terão repouso à beira do negro pez nestas gauches
árvores
Quais folhas cobrem calçadas em que passos se perdem
discretos
A vida durante o inverno entra em ritmo de espera
pela renovação
A profunda solidão, tormento e dor de lamentosas
figuras passadas
Se refaz em suspiros das almas angustiadas, a vaguear
sem destino
Carregando escondido o luto silencioso na noite
repleta de lágrimas
Nas paredes, nos chãos e muros se espalha o brilho
prateado do luar
A socorrer o poeta em seus versos rasgados de
cânticos de vingança
Cantados como a cigarra, cantando até ver seu
desconsolo exaurido
Ao longe inda há com nostalgia, o pálido repicar dos
sinos da tarde
E a puta caminha seminua à margem dos muros
indiferente ao frio
Em sua luta desigual pela vida, carregando seus
segredos doloridos
O anoitecer alcança os observadores e seus semblantes
nas estrelas
Desfilando seus radiantes sonhos purpúreos, entre
anjos apagados
E os pés nos caminhos lapidosos das memórias remotas
da infância
O som da harpa chega esvanecido entre os vidoeiros
ensombrados
Mas seu som delicado escorre alegre sobre as águas em
paradoxo
À profundeza do báratro em que deitamos nossa
esperança antiga
Meus caminhos são íngremes até aonde os olhos
conseguem alçar
Porém deles não lamento, nem dos dias solitários de
sono e morte
Hoje sou águia a voar pela eternidade nas asas
azuis da melancolia
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