Como me ouvirás a voz se aquiesceres que as estrelas fujam entre
nuvens
Se na calada da tarde deixares que inutilidades assumam o lugar
do amor
Se o ciúme que incendeia a dor, oxidar a esperança, germinar as
ausências
O que imaginas, te decretando que desertes de nós, se só tu é
que me tens
Se acho força para renascer a cada aurora eu o faço por esperar
teus beijos
Então porque imaginas que vivo tudo aquilo que já releguei ao
esquecimento
Onde pensas encontro alento a cada despedida de tua necessária
presença
Senão na lembrança de tua luz diamante que é a matéria essencial
da vida
Não abandones ao vento avaro da suspeita as flores que estão à
tua espera
Por ti despertei do sono e me atrevi reabrir janelas para os
riscos do amor
Consenti que uma insuspeita pulsação revelasse esse sentimento
contido
Para anos depois de morto, suspirar novamente vivo, para
cavalgar o zefir
Não permitas que o gris interminável retome os céus com seus
fantasmas
Nada existe do outro lado de nosso amor, senão ácidos tempos acabados
Não te vês nestes singelos versos que são a resistência ao
silêncio diário
Que o passado restou apenas no passado e que és a única luz que
emerge
Não te dás conta que estando juntos somos a melhor definição do
eterno
Que as esperas que temos que nos submeter não podem ser de
desespero
Mas são o prólogo de novo capítulo, onde tudo além de nós é
anonimato
Tal qual o vinho que delibamos a preceder infindáveis estações
sublimes
Percebas que a fome de ti me preenche os poros e me cantes uma
canção
À luz de vela toma-me, entrega-te, liberta teus desejos mais
impróprios
Cultiva gemidos entre lençóis e te olvides de tudo mais, afora
setembro
Escrevo somente por ti, e o faço com pedaços de mim, a cada
entardecer
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