Em meio ao silêncio, eu ouvia os passos da enfermeira
no corredor
Havia o som distante de uma conversa, quando os passos
se foram
Noite alta, no meu quarto lá
estava ela vestida de negro a me fitar
Não fosse a enviada da morte, diria que seu rosto era quase sereno
Ninguém ao
redor, um mesmo nó na garganta que impedia de gritar
Antes me impedira de respirar
e meu coração parou, então ela veio
Com suas longas unhas, seu sorriso de enigma, ela
seguia a me fitar
Sempre soube que
ela viria me buscar, mas não tão cedo, não agora
Na minha mente se passava
um turbilhão de imagens preto e branco
Era a minha história passada como um filme que eu não
podia parar
E ouvia todas as vozes do passado, os conselhos que
nunca escutei
Ela ficou a me fitar, impassível, comecei a
caminhar na sua direção
Todas as imagens que surgem
dentro de mim estão tingidas de cinza
Minha alma e mais ninguém sabe ao certo o que de fato
me conduz
Eu sabia o tempo todo
que viria o dia que as sombras iam me rodear
Todo inferno que eu vi ainda me limita, toda dor
ainda me completa
Um mundo passou por
mim esse tempo e eu assistia do lado de fora
Mas, a luz de uma pequena estrela
brilhou no fundo do meu coração
Assim, ela desviou o olhar e eu vi
dentro de mim meu verdadeiro eu
E de alguma forma decidi
claramente por deixar o passado para trás
E eu aceitei a nova vida e agora eu vejo no que me
tornei de melhor
Toda raiva se foi, toda
angústia. Enfim despertei para o que é viver
Nenhuma mágoa, nenhum
ato sem perdão, nenhuma discórdia vale a pena nesta vida. A morte não
vem antes da hora, você saberá
quando.