Vício
A folha branca sobre a mesa, a brisa sopra pela janela
aberta
Trazendo o som do mar, é o início de mais uma noite
sem fim
Enquanto olho distraído o dia passar nos telhados da
cidade
Não consigo negar és
o meu vício, a poção que me envenena
Mas és também o porto onde retornar depois da
tempestade
O tempo fica esquecido e teu riso ecoa pelos cantos da
casa
Inventas pontos de luz onde só existiam sombras sobre
a vida
Onde tu pousas as mãos a mobília ganha vida e suave
bálsamo
Mas, enquanto tu não vens, os objetos da casa ficam
quietos
Hoje vou me perder na tua geografia, num abraço
desmedido
Canto uma canção de lírios azuis para esperar a tua
chegada
Com palavras interditas que só ousam pertencer aos
amantes
Vou abrir a porta da frente, te receber com uma vogal
aberta
Para que o mundo saiba que a dor me aflige se estás
distante
Vou falar sem sombra, sem medo, da alegria de quando
voltas
Com as palavras de homem suburbano que discorda da
norma
Que decide por quantas horas que não me cabe tua
presença
Para satisfazer qualquer dos arranjos imperativos do
universo
E só por negar a solidão num último gesto, escrevi
este poema
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