Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
quarta-feira, dezembro 27
quinta-feira, dezembro 7
Persistência
Na sacada da casa em que vivíamos há tanto a lembrar
O tempo desgasta o que o observa, devora lembranças
E o silêncio reina absoluto nas trilhas de tua ausência
A vida é estrada rústica de pedra sobre pedra e barro
Acima, é a amplidão, o céu que a tormenta se apregoa
Como fosse um áspero telhado que esconde os astros
De onde jorrará raivosa, a água qual um mar de chuva
Se merecermos, a vida seguirá e acercarão os invernos
Um par de janelas e uma quase invisível teia de aranha
Tecida na varanda da casa onde, insone, fazia poemas
La fora, o vento assovia as suas melancólicas canções
Sacode a todas árvores emudecidas de tuas memórias
Que guardam adeuses pendurados em meio aos galhos
São como uns pequenos alfinetes coloridos num mapa
Anotando entre o cheiro da borrasca o rumo a seguir
Na noite enfurecida, derramam-se relâmpagos do céu
Aqui é tudo abismo e a morte já não contrasta a vida
Sigo exilado de teus carinhos, pois te tornaste etérea
Depois disso fui obrigado a seguir fingindo estar vivo
O umedecido e solitário rosto sabe lá quanta tristeza
Que persiste, não em flama, mas numa desnudada luz
Persiste, qual a vela distante, alento que já apagou-se
Persiste, não n’algum vaso ou na arisca gora de chuva
Na luz das tochas que incendeia a mão que a carrega
Persisto, como túmulo sem epitáfio, sem nada a dizer
sábado, novembro 25
Apocalipse 2023
Não jurarias p’la noite perfumada d’um amor só começado
Pois o sentimento adirá aos olhos humanos como um visgo
Não, não o dirias pela noite gritando em loucos megafones
Que o ozônio que se foi, ora aquece a terra, planeta risco
Não clamarias por outra arca da destruição num novo fim
Pois não viria um dilúvio, tudo sendo consumido pelo fogo
Eis que vez todos mortos, nos ditarão a nova tábua de leis
Sem os murmúrios e balbucios da escória a novos inventos
Será reinventada uma compaixão, feita apenas de empatia
Sem o arrastar de correntes, línguas antigas e sem punhais
Sem o cuspir das balas ao som inesgotável dessas matracas
Então serão lançadas fora as máquinas de triturar sonhos
Que poderiam ser livremente sonhados e quiçá realizados
Não haveria os bares nas esquinas das grandes metrópoles
Ânforas de cobre coletariam toda a água que se irá beber
Nos caules das rosas ou dos figos não nasceriam espinhos
E nas melancias os caroços e cocos teriam cascas macias
É quando, enfim tudo reiniciará sem essa monótona sorte
Toda lágrima secaria só amando, também, se nos amassem
Sem o risco de se apaixonar e, pior, até ser correspondido
Sem corações feridos, não mais se escreverá as cicatrizes
O poema enfim, seria escrito tal se manda nos dicionários
sexta-feira, novembro 24
Tudo e Nada
Pássaro, sou poeta sem nome, sem estirpe
Um pássaro das letras e silabas de pássaro
Palavras ruivas, tão vermelhas, tão negras
Carregadas no vento que trouxe as chuvas
Aos olhos d'um céu cinzento, inconcebível
Um pássaro que se incendeia e renascerá
Desplumado como víbora, breve e atenta
No sutil e volátil ar se converte em águia
Para, rasante, atravessar as teias da vida
Bicar a estrela da manhã, qual fosse nada
Tocar no sonho da noite, qual fosse tudo
Numa incipiente primavera, tudo ou nada
Amanhecer enfim, dia após dia, sol rubro
Nutrido da palavra oculta, do sal da terra
E despertado, beber do vinho que é verbo
Mistério real da transmutação do pássaro
No poeta que busca na sombra e vê a luz
quarta-feira, novembro 22
Julie e o Andaime
Lembro-me do dia que te conheci, eras qual o vendaval
Tua presença tocou com a verdade, em minhas pupilas
Vi a tua vida de fora, no limite perigoso de um andaime
Vi tuas escolhas, teu desejo do imediato e sem amanhã
Fazendo do que seria prazer ser somente silêncio e dor
Hoje o corpo desgastado, mais sombra que pele e ossos
Nada hás de ter na terra, se não o guardaste no sonho
Nada mais te será dado, pois te deram tão só uma vida
Um milagre, um brinde, uma única estadia nesse corpo
Cada estadia é gloriosa, é o cântico de todos cânticos
Uma alma, um anjo das asas rotas e trazida pelo olvido
Navegando qual barcos transparentes entre as nuvens
De onde vinha o sol, germinavam suaves flores carmim
Mas caminhastes por caminhos tão breves e perversos
À luz de impensáveis partituras, entoadas em si menor
Tua casa um espaço aberto ao fim, uma noite sem céu
Nunca virei-te o rosto, nunca te ditei quais geometrias
Porem me despedi da história, finda antes de começar
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