Apocalipse 2023
Não
jurarias p’la noite perfumada d’um amor só começado
Pois o
sentimento adirá aos olhos humanos como um visgo
Não,
não o dirias pela noite gritando em loucos megafones
Que o
ozônio que se foi, ora aquece a terra, planeta risco
Não
clamarias por outra arca da destruição num novo fim
Pois
não viria um dilúvio, tudo sendo consumido pelo fogo
Eis que
vez todos mortos, nos ditarão a nova tábua de leis
Sem os
murmúrios e balbucios da escória a novos inventos
Será
reinventada uma compaixão, feita apenas de empatia
Sem o
arrastar de correntes, línguas antigas e sem punhais
Sem o
cuspir das balas ao som inesgotável dessas matracas
Então
serão lançadas fora as máquinas de triturar sonhos
Que
poderiam ser livremente sonhados e quiçá realizados
Não
haveria os bares nas esquinas das grandes metrópoles
Ânforas
de cobre coletariam toda a água que se irá beber
Nos
caules das rosas ou dos figos não nasceriam espinhos
E nas
melancias os caroços e cocos teriam cascas macias
É
quando, enfim tudo reiniciará sem essa monótona sorte
Toda
lágrima secaria só amando, também, se nos amassem
Sem o
risco de se apaixonar e, pior, até ser correspondido
Sem
corações feridos, não mais se escreverá as cicatrizes
O poema
enfim, seria escrito tal se manda nos dicionários
Nenhum comentário:
Postar um comentário