Persistência
Na sacada da casa em que
vivíamos há tanto a lembrar
O tempo desgasta o que o
observa, devora lembranças
E o silêncio reina
absoluto nas trilhas de tua ausência
A vida é estrada rústica
de pedra sobre pedra e barro
Acima, é a amplidão, o
céu que a tormenta se apregoa
Como fosse um áspero
telhado que esconde os astros
De onde jorrará raivosa,
a água qual um mar de chuva
Se merecermos, a vida
seguirá e acercarão os invernos
Um par de janelas e uma
quase invisível teia de aranha
Tecida na varanda da casa
onde, insone, fazia poemas
La fora, o vento assovia
as suas melancólicas canções
Sacode a todas árvores
emudecidas de tuas memórias
Que guardam adeuses
pendurados em meio aos galhos
São como uns pequenos
alfinetes coloridos num mapa
Anotando entre o cheiro
da borrasca o rumo a seguir
Na noite enfurecida,
derramam-se relâmpagos do céu
Aqui é tudo abismo e a
morte já não contrasta a vida
Sigo exilado de teus
carinhos, pois te tornaste etérea
Depois disso fui obrigado
a seguir fingindo estar vivo
O umedecido e solitário
rosto sabe lá quanta tristeza
Que persiste, não em
flama, mas numa desnudada luz
Persiste, qual a vela
distante, alento que já apagou-se
Persiste, não n’algum
vaso ou na arisca gora de chuva
Na luz das tochas que
incendeia a mão que a carrega
Persisto, como túmulo sem
epitáfio, sem nada a dizer
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