Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
sábado, novembro 25
sexta-feira, novembro 24
Tudo e Nada
Pássaro, sou poeta sem nome, sem estirpe
Um pássaro das letras e silabas de pássaro
Palavras ruivas, tão vermelhas, tão negras
Carregadas no vento que trouxe as chuvas
Aos olhos d'um céu cinzento, inconcebível
Um pássaro que se incendeia e renascerá
Desplumado como víbora, breve e atenta
No sutil e volátil ar se converte em águia
Para, rasante, atravessar as teias da vida
Bicar a estrela da manhã, qual fosse nada
Tocar no sonho da noite, qual fosse tudo
Numa incipiente primavera, tudo ou nada
Amanhecer enfim, dia após dia, sol rubro
Nutrido da palavra oculta, do sal da terra
E despertado, beber do vinho que é verbo
Mistério real da transmutação do pássaro
No poeta que busca na sombra e vê a luz
quarta-feira, novembro 22
Julie e o Andaime
Lembro-me do dia que te conheci, eras qual o vendaval
Tua presença tocou com a verdade, em minhas pupilas
Vi a tua vida de fora, no limite perigoso de um andaime
Vi tuas escolhas, teu desejo do imediato e sem amanhã
Fazendo do que seria prazer ser somente silêncio e dor
Hoje o corpo desgastado, mais sombra que pele e ossos
Nada hás de ter na terra, se não o guardaste no sonho
Nada mais te será dado, pois te deram tão só uma vida
Um milagre, um brinde, uma única estadia nesse corpo
Cada estadia é gloriosa, é o cântico de todos cânticos
Uma alma, um anjo das asas rotas e trazida pelo olvido
Navegando qual barcos transparentes entre as nuvens
De onde vinha o sol, germinavam suaves flores carmim
Mas caminhastes por caminhos tão breves e perversos
À luz de impensáveis partituras, entoadas em si menor
Tua casa um espaço aberto ao fim, uma noite sem céu
Nunca virei-te o rosto, nunca te ditei quais geometrias
Porem me despedi da história, finda antes de começar
segunda-feira, novembro 20
Sina
Penetro-te por cada ranhura
Em cada greta resvalo
Entro pelos orifícios
E tu chias
Não importa a forma
Eu te observo
Meu olhar úmido
De quem se abrasa
Um instante
E o inseticida
Vem pelo túnel
Sufoca-me até matar
Verme que sou
Deixei marcas
Em ti madeira
Somos esses
É nossa sina
Ser assim
Eu cupim, tu árvore
sábado, novembro 18
Outono Irrevelado
As lâmpadas acendem-se em artérias de silêncio e a sombra passa
No segredo do pensamento, tal a pedra indevassável é o sinal que
O outono retornou para dar a crua medida de todas as ausências
A plena negação de tudo que um dia escapou e chamamos de real
Escrevo o poema com o ar da tarde que se transformou em vento
Com a chegada da noite e, estrela, se revelará pela imensidão azul
Qual um cheiro de dor antigo e mesclado com os taninos do vinho
Do tempo que o meu coração batia no hemisfério esquerdo do peito
Há quem declare o outono em seu gris, até sonegador das palavras
No entanto é voz, a replicar o pensamento, a atravessar distâncias
Nas coisas e memórias que tocou mais leve com sua transparência
E as ressuscita para desaparecer o todo comprometido com o real
Devolvendo-as ao sonho que as multiplica na voragem do palpável
Em tempos de dias ácidos, vem oxidar o oxigênio febril da insônia
E o faz este poema emergente, prefaciado de palavras indormidas
Que zunem no zinco das tardes, entre as amoras de meu passado
Escrevo poemas, mas aquele coração, ficou à margem da linha do
trem que já partiu, naquele outono que tenho em mim, irrevelado
sexta-feira, novembro 17
Prima Vera
Prima,
Este silêncio
nesta manhã de outono
fria como nenhuma
Caminho
sem pensar
nada tenho a perder
É domingo
Vera
os telhados escuros
da avenida vazia
os ramos secos
poucos
entrelaçados
uma pomba que belisca
a água podre da sarjeta.
Nenhuma alma pela rua
nem o porteiro que varre
nem os cães
Entre raízes da seringueira
da praça da liberdade
os sem teto
encolhidos.
Na banca de jornais
vomitam-se as notícias
da bolsa, do dólar
da droga, corrupção
o pássaro morto no canto
não canta
são buzinas que
rompem o silêncio.
Chove
e a TV só funciona
vez ou outra ou menos
a cama desfeita
lençóis amarrotados
não vou compartilhar com vocês
que diriam?
que tampouco viriam?
tudo bem
Papéis desordenados
pelo chão
esquecidos, suponho
A máquina de escrever
sem fita
cinzeiros cheios
E eu nem fumo
livros amontoados
a roupa suja de tinta
no vidro da janela
quinta-feira, novembro 16
Não culpe a chuva
No final, outros olhos vão definir se fui luz ou trevas
Não será minha hipotética nobreza que virá me julgar
Antes, é à espada do inimigo a que deverei responder
Sem que escolha a companhia da harpa ou de belzebu
Neste denso caminho das dualidades e subjetividades
Sei que menti quando precisei reinventar-me no vazio
Sei que menti quando devia iludir o mistério da morte
E assim mesmo, navego só neste mundo de incertezas
O pó do tempo d’outro século, já se deposita em mim
Tempestades e tormentas insanas tatuaram-me a pele
São memórias flutuantes do oceano de minha infância
Onde escondi os perfumes dos bosques de eucaliptos
De meus pecados e serpentes faço música rock’n’roll
E confesso também me deleita o som e a dor do oboé
Sei que nada neste labirinto me devolverá ao passado
Então me entrego ao destino que nasce com a aurora
Se eu morrer no domingo antes da chuva, não a culpe
Afinal, não tem juiz mais sábio que o passar do tempo
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