Intempérie
Desde que partiste na calada da noite silenciosa e vazia
O abandono cresceu incontido, que já quase te esqueci
Memórias de solidão reunidas qual escamas justapostas
Que se desprendem uma a uma, até que não reste nada
A realidade é o silêncio reiterado, é a morte recorrente
Feixes de luz sem brilho, no rio volátil do esquecimento
Foi o que restou, quando renunciaste de tantos sonhos
A buscar o que parecia paraíso, na estrada do vil metal
Mas o que nos difere, nunca foi o que a vista pôde ver
O que me abismou foi julgares o menos qual fosse mais
E hoje derrotada, inerme e prostrada, esperas pelo fim
Que para teu desespero, nem vem dar cabo da tua dor
É pena, não vistes no teu mais íntimo, toda a alquimia
Que um dia nos cercou e tatuou-me de vida o coração
A vida que querias fosse um breve sopro sub-reptício
Mas por destino ou por desatino recusa-se a se render
Na paleta de tua escolha, realçaste a mescla ambígua
Das cores que se confluem ao negro, do céu sem luar
Como um véu infinito além dos sonhos que olvidastes
Sem ver que não foi a intempérie que te tornou frágil
No melhor dos casos é não termos nossa mão, já pálida
A pender, fria, de um saco preto entre desconhecidos
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