Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
segunda-feira, novembro 25
Anacreôntica
O caminhoÉ tortoO diaÉ longoO sol sintona peleMas é escuroParoAbro os olhosEis!A palavranão ditaVem a mimcalou-meJá não hápropósitoNada équal o vêsO papel nãoserve maisO pranto nãoserve maisO diaÉ tortoO caminhoÉ longo
quinta-feira, novembro 14
Café da Manhã
E assim a distância
suspirou arranhando as fronteiras do céu
Entre pilhas de papeis alvos onde virão a frutificar os
poemas
Velozes
estilhaços entre as mãos, flores multicores do jardim
Ouço o som cálido
do teu feitiço entre lençóis e sinto-me só
No silencioso ato
de lembrar-me de ti, de semanas a
semanas
Atormentado na linha do mistério, na parte sutil do devaneio
Ao longe te contemplava,
o teu perfume inundando as horas
Reviro minhas
gavetas cotidianas para que devolvam a calma
Para rever teu o sorriso perturbador, cachecol xadrez solto
Qual os
canteiros verde-escuros e seus malmequeres
ocultos
Busquei a
verdade como quem ouviu o som da chuva caindo
Mas o sol luziu na sacada sobre a roupa pendurada no
varal
Senti-me um estrangeiro neste mundo de colarinho
engomado
Camisas de brancos
virgens, que guardam tão pouco de mim
Mas amo teus lábios
de papoulas que me saúdam sem
limite
São o ópio que
me entorpece, o porto seguro de meu abrigo
Os anjos sussurram-me arcanos nesta noite em que te recrio
Na minha
linguagem de palavras sombrias,
de bolas de cristal
Passo a passo,
enfim compreendo tua necessidade de
ir e vir
Porém hoje te vim
buscar, já não me basta te ver num sonho
Quero o calor de nossa cama indormida até o café da manhã
terça-feira, novembro 12
O Segredo da Lua
A tarde é um
céu opaco na tristeza do entardecer
Impera um
propício silêncio a preceder o temporal
Com o pensamento que germina em todas solidões
Minha voz
nutre-se do alento, na memória do rosal
No tempo
insone que separa a folha receber a
flor
Nas voltas decompostas do relógio em turvas
horas
A peculiar atmosfera enquanto se aguarda a
chuva
As ideias me desertam na espera que a tarde impôs
A crueldade do
calendário de saber tantos ontens
Mas a fugidia
incerteza de que será algum amanhã
As nuvens, num
esgar colérico, troam relâmpagos
Indiferente o ancião bafora seu corroto cachimbo
Cotovelos fincados na janela do outro lado da rua
Sob esfera celeste tão gris algo desgoverna em mim
Como poderia
diante dessa tão refinada paisagem
Não sentir
falta em assoladora e remota ausência
Não, não
queria e nem vou dizer nada dessa
falta
Porém nessa ardente
flora que nasce da ausência
Não colherei flor alguma. A lua e seu porte grácil
Espalha sua
luz pelo céu que as nuvens segredam
sexta-feira, novembro 8
Tuas Letras
Quando o
inverno já apontava na instabilidade dos meus dias
Tu entraste em
minha vida qual a neve no alto da cordilheira
Por mais que
me recusasse, tu brilhaste em mim como um sol
Eu que era
crepúsculo, minhas pétreas premissas
desabaram
Quando me beijaste nos lábios ao vento noturno à
beira-mar
A imagem de teus cabelos esvoaçantes não me sai
da cabeça
Tuas carícias,
qual fugidio vinho, percorrem minhas artérias
Sob a lua das ilusões
minha voz recita versos até o alvorecer
E eu, vítima de teu feitiço, perdi-me no sonho de
tua vinda
Teu incandescente
beijo carmim que me fez ébrio de desejo
E desnorteia o
coração que em meu peito palpita acelerado
Com tua pele
de luz resplandecente a iluminar meu caminho
Chama incessante, assim viajo pelas dimensões de teu olhar
Minhas noites cintilam por ti e os astros e estrelas são tuas
Galáxias inteiras ou um único vagalume perdido, é só por ti
Este poema também é teu, afinal, és tu a razão destas letras
quinta-feira, novembro 7
Desafio
É tão fugaz e
esquivo dar vida ao mistério das palavras
As poesias desde
sempre entranhadas em meu coração
Mas nem assim
me pertencem, assumo, mas me habitam
Numa vida que tive
tanto que andar e de me desgarrar
Inquieto-me em
poder dar ao bronze formas e essência
Súbito descubro
que ao festim foi convidada a solidão
Faço com que a melancolia seja nada mais que
desafio
Prosseguir jogando o jogo entre todas
as minhas idades
Onde os
pássaros cavalgam os ventos, acima das ondas
Abrir a janela, aspirar o campo, o cheiro de terra úmida
E recordar da brisa que se entremeia entre os
arbustos
Mesmo quando dói trilhar pelo caminho da
maturidade
Esquivando-se dos ritos, consultando signos e oráculos
Recorda hoje
as vozes de outrora baterem à tua porta
Relembra da esperança amanhã, porque nunca foi fácil
Pois aqui
estou como menino a cantar velhas
canções
A sorver o novo poema, tal quem sorve a taça de
vinho
O poema mais lúcido de um novo implacável anoitecer
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