As nuvens
anunciam o outono pelos caminhos cotidianos
Rompo com os
pronomes e ébrio de verbos avanço no dia
Assim o poema que
acha de ser um tanto qual os mortais
O homem
ajoelha em silêncio e é qual a pedra seca do rio
Não guarda
nada do rio que, quando caudaloso, a cobria
Um grão d’areia nos degraus seculares a ver passar a hora
A ouvir o pio de corujas
crepusculares e outras criaturas
No movimento menor do cavalo, parte o último
ceifador
Enfrento a
morte com a morte, será mesmo um prodígio?
Como o mineiro
que ao sair da mina cobre os olhos da
luz
O silêncio que
fica a esperar o primeiro ruído para partir
Esboço nos lábios um sorriso de assombro, de coisas
reais
A febre
flameja com docilidade dentre as tulipas
frágeis
A imagem que
mostra o espelho é eco do que o homem é
Assim o somos,
um eco da própria existência nesta terra
Uma nesga do que um dia
pretendíamos ser, quando pó
E na iminência de voltar a ser pó, vivemos na
inquietude
De jamais vir a ser, de descobrir que
ser homem não basta
Que essa coisa
de ter nascido na aurora, um dia morrerá
E o horizonte
não é uma linha estendida entre céu e mar
Precisamos é fazer voltar os pássaros e o cheiro do anis
Ser a palavra lançada da boca, caída no seio da
verdade
De que longínquo sonho caímos? Que futuro nos
legará
A triste sina é que em verdade somos não mais que ondas
Nos levantamos, rugimos, para depois voltarmos a ser mar
Vide o segundo verso: O poema não tem nenhum pronome pessoal do caso reto e os poucos do caso oblíquo são objetos diretos. Nenhum possessivo.
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