Se um dia eu já
houvera dito algo sobre dias de chumbo
Jamais imaginei quanto mais plúmbeos que poderiam ser
Em um dia comum desses que o sol mal vencera a neblina
Se encaminhava seguramente e de forma lenta ao zênite
Um relâmpago inesperado veio e me trespassando o peito
Do nada espalhou mil trovões de dor lancinante e amarga
Fixando meus olhos estupefatos na mesmice dos azulejos
Fazendo ver suas linhas antes retas, ondularem em zig-zag
O suco que iria para escola crianças restou-se sobre a pia
Acre como o espanto e o fel que roubou cada gota de ar
Mãos desesperadas, revolveram-se em busca de respostas
Na minha mente estavam as crianças na sala ora solitárias
Caminho à sala e a sombra da morte já estampada na face
Como lhes dizer que senti minha vida findando a se esvair
Que o destino decidiu abrir-me uma fresta muda no peito
Não foi possível esconder-lhes e o menino desaba lágrimas
Roubo-lhe a meninice, não deixo a tristeza de ver-me cair
Na certeza que o temor antevê, mando-o cuidar da irmã
Ele em prantos me abraça: vai sim filho, ficará tudo bem
Não temia ir-me, mas que não lembrem de mim ao crescer
Que minha presença se limitasse a fotos ou histórias frias
O mundo apaga brevemente e depois inda ouço as sirenes
Fora da compreensão tudo inda flutua diante meus olhos
Sem respostas, cumpre galgar o conhecimento a cada dia
E assim Deus inicia-me um novo episódio. Que assim seja
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