Uma doce
canção antiga de ancestral raiz vem trazida pelo vento
Assoma
a meus ouvidos tomando-me como numa breve vertigem
Uma
palpitação, calada, toma meu fôlego na vastidão do cosmos
De onde
viria tal encanto, de que boca saltaria tão altaneiro som
Os
astros a tudo observam com espanto a essa inaudita vibração
Num
instante, do íntimo, uma imagem nua evanesce translúcida
Meus
olhos a seguem em galope pelas savanas, para onde correrá?
O que
fará tal deusa em tão inóspitas paragens de rios sem leito
Traz
sua dança para mim na ravina sob um véu de vítrea espuma
Sedutora
se infiltra em minhas lembranças de um outro universo
Quando o
silencio torna e a cena se vai fica no frescor da memória
A pedra
lavrada e polida em que, na árdua lida, se cinzela o poema
Confessa
segredos oblíquos por detrás das cortinas dos sentimentos
Assim
viaja aos confins dos tempos para resgatar o toque das mãos
Delicado
contato místico no acalanto da ternura nos frios invernais
Ao poeta
cabe a obra dos insubmissos, semear por álgidos caminhos
Envolvendo
o coração em labaredas invisíveis, de ímpetos calorosos
Celebrando
a vida face a morte para exorcizar o demônio do rancor
Solidão
sombria em que soluçamos exauridos as ausências desta vida
É ser
deus feito homem cujo infortúnio é só desejar reinventar o amor
O poeta
para espargir o fastio dos domingos e a atonia das segundas
Desenha palavras frias tal qual cicatrizes nas
entranhas das páginas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário