Se passou
outro mês julho chegou com suas promessas
O poema emerge
vivo na noite, surge, sem pedir licença
Subitamente
reconheço teu abraço, enigmas e acalanto
Escuto tua voz-sussurro oculta sob as tábuas da escada
Então o ar rescende ao teu perfume de lavanda e jasmim
Qual as
últimas folhas do outono sopradas pelo inverno
Vejo doces imagens desenhadas nos matizes do arco-íris
Os segredos de lúcidos instantes
detêm-se na memória
Então componho estes versos entre auroras atemporais
Até sei que às vezes escrevo poemas um tanto amargos
Mas é da lágrima desesperadamente
pequena na pupila
Ou é como o grão de areia que ultraja no canto da boca
Tudo isto se constituiu há milhares de dias de
distância
Mas hoje somos o clarão da esperança no meio da noite
Já vivemos imersos em tempos de caminhos de chumbo
Sofremos na alma dores que vieram de um vento alheio
Adentro de uma densa ausência filha
do medo e solidão
Mas o destino ainda nos reservaria surpresas no tempo.
Que à revelia de desencontros, despedidas e abandonos
Um dia renasceu na energia sutil
um sentimento antigo
Real, fotográfico, que andava
escondido no subterrâneo
Não te quero só para possuir o teu corpo, eis que te amo
Não é por isso
que te quero ver, apenas por tua matéria
Ambiciono habitar
a tua alma e em ti quedar-me eterno
Estar em teus
pensamentos, por trás de cada sorriso teu
Estar na brisa que teus suspiros causam no ar da tarde
Quero ser um
caleidoscópio de possibilidades no teu dia
Mesmo que nossos corpos não sigam
caminhos comuns
Seguiremos juntos pelas alamedas
fechadas dos sonhos
Muito além de todas as intempéries
que possam formar
Isentos dos tristes tempos dos
relógios destas latitudes
E se nossos passos não caminharem no mesmo compasso
Na poeira da espera, rubra de espanto,
dançaremos no ar
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