Há dias
que o silêncio preenche as múltiplas horas ausentes de prazer
Dias que entre a aurora e o ocaso
só há companhia das tábuas do chão
A profunda nostalgia que lavra
a poesia amarga na página entreaberta
Dias de corpos separados,
perdidos em caminhos sem qualquer beleza
Contemplo a janela e a rua lá
fora é deserta e invariável em sua aridez
Nascem estranhos presságios e o
pássaro já não canta antigas alegrias
Canta o medo das solidões, das
perguntas irrespondidas, da despedida
Abro a porta e tudo é igual,
ligo a luz, mas permanece a mesma mudez
Será que o silêncio nasce
talvez de meus gestos de recônditos segredos
Quem sabe, de minhas alegrias
recolhidas e de meus medos arraigados
Uma treva sem trégua, uma face
perdida ou asilada, renegada ou aceita
Tão ensimesmada vai reencontrar-se
na sombra da qual se desprendeu
Este voo sem som e sem cor, que
lhe sobressalta a incerteza de chegar
Preso no ar pelas mão do olvido,
calado de assombro. Que versos traz?
Que letras multiplica a compor em
um segundo o sentido da existência
Como uma eletricidade que de
súbito invadiu o corpo, a tudo clareasse
Mas as respostas não surgem de
alguns momentos obscuros à meia luz
Vêm da memória
de sensações felizes, do brilho de outrora, da paixão
Em que de um transe me reinvente livre e solto no espaço
sem limites
Para romper em luz,
trespassando as trevas, abrir a página sem receios
No cabelo a voar em desalinho,
a estrema de uma ausência e uma falta
Mas há a
certeza de um breve retorno, de tê-la novamente ao alcance
Avançar rumo
a seus lábios, desatar o nó na garganta e parar o tempo
Hastear as bandeiras, calar o
pranto, acordar o canto e somente sorrir.
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