Meu poema tem o dom de
tornar-me alado
Para voar além dos limites do
horizonte real
Livre do
rigor do andar que submete o passo
E dos caminhos pré-traçados que
herdamos
Não negarei que o poema é algo
de solitário
Quando se nega à submissão da
regra usual
De nadar em cardume e trotear
em manada
Quando se abdica de ser parte da
geometria
E ter medida no traço da pena
sobre o papel
Porque o verso não pode assim
ser limitado
No poema reside o eco da palavra
inaudível
Que desaltera o vazio e se
manifesta em cor
Replica a sombra do visível contra o abismo
Encadeia o
vácuo das paixões, ora ausentes
A sombra, o
vazio e a ausência são a inércia
São o avesso exato e a negação do
vocábulo
Há nos escritos um rosto cercado
de silêncio
Há dentes emoldurados por lábios
que riem
A boca que murmura,
fala e grita non sense
Pensamentos
ao vento calados e sem rumo
O poema é a
porta aberta,
a cerca viva baixa
É a brisa
que alisa o gramado na tarde de sol
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