Já
chega a primavera, mas resta tanto de outono no meu poema
Nele as flores restam
adormecidas entre estes versos sem rimas
Uma lembrança
bem distante como a chuva, para terra crestada
Não
há frutos na árvore,
não há
brisa ou pôr de sol no
horizonte
A esperança
uma palavra costurada no peito que sangra no estio
São amplitudes imaginárias dentro do
meu ninho de ave errante
São
antologias de letras de prata, alinhadas na noite de lua nova
A angústia
que sempre invade quando a madrugada se aproxima
Com seus sons de
dias idos e seus mortos, injúrias, de muito frio
Para
me confortar vejo um retrato teu quando baixo as pálpebras
E
o poema se dilui na bruma das linhas desocupadas de palavras
A
palavra explode em amorosos fragmentos e escorre como lava
Os verbos refreando
a arritmia do coração se me ausento de
mim
Nos adjetivos da
paixão que trago em meus dedos para te
confiar
Quando
meus fantasmas se fazem presentes nas noites de insônia
Na tentativa de
escrever o poema dos poemas nestas linhas tristes
Levo-te
comigo para te amar loucamente entre as estrelas perdidas
Levo-te
comigo, apesar de minhas mãos emudecidas e já fatigadas
De
todas as vidas em mim que contam dessa minha dor tão latente
Posto que fui feito
da poeira espalhada por afetos outrora negados
E
na ousadia dos lamentos em tons de azul dos versos emudecidos
Sei
que minha aflição, por vezes, alto geme, carregada pelo vento
Serão
dores as palavras ou serão amores em letras
mal desenhadas
Ou
traços
da solidão que marcou meu corpo como roseiras bravas
Mas,
quando me dispo da razão me olvido de tantas e vãs esperas
Busco-te e tuas
ternuras enluaradas ou teus lábios meio ao
eclipse
Para, por fim,
fazer morada em tua pele alva, teus sorrisos francos
Nos gestos de amar,
nos sonhos perfumados, no olhar de mar e luar
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