Borboletas de Chumbo
A noite aponta
o revólver abaixo da estátua de braços abertos
O abismo
aplaude insciente do tanto perdido, cidade maravilha
As multidões,
o coro do universo e até as rosas já emudeceram
Nos subúrbios
da metrópole, onde só restou a caneta do poeta
Era uma cidade
linda, mas agora a morte é entregue a domicílio
Os anjos
faziam-se moucos, desapartados pelos disparos cá e lá
As crianças
malabaristas equilibram limões já passados, no sinal
Esgueiram-se
ávidos, invulneráveis, entre paquidermes de metal
Seu futuro
estéril se esvai na madrugada com os olhos alagados
Que louco,
caminha esquivo a exalar um hálito quente de verão
Nas calçadas
tingidas de vermelho por mil borboletas de chumbo
No horizonte
branco nasce, a trote, uma furiosa lua inesperada
Na esquina
dessa rua cujo nome esqueci onde o sono não existe
Um outono bate
à última janela fechada, em manifestos niilistas
Minha cabeça
não pode digerir, ao passo que se contam mortos
Mas outros em
desprezo pela vida caminham qual nada houvesse
O fogo ainda
ilumina aquela fotografia que restou na imaginação
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