Bagagem
O que
guardaremos quando as luzes apagarem
na vida
Não o poder, nem
o sucesso, isso tudo será esquecido
Mas o que viverá é aquele menino de alegrias efêmeras
Prazeres
fugazes de quando aprendia a nomear coisas
O eco da voz em cada pronúncia de palavra aprendida
Também nos
acompanharão as pequenas doces coisas
A flor de laranjeira
e os pássaros a cantar pelos galhos
O aroma das alfazemas
do campo, o afeto de abraços
Lá no fundo dos sonhos, residirá um quê de remorso
A pedra no estilingue, o pássaro caído, o canto calado
Comigo levarei o toque primevo do
amor descoberto
Notas de romance compassado, sentir um
leve flutuar
Que tão absorto me fez, no delicado contato da pele
Porém descobri
que as juras eram só rumor do vento
Soprando os ipês roxos sem flores, sem perfume ou cor
Faço-me levar
comigo, também, o que não teve brilho
A inocência há muito perdida e as ilusões
rescindidas
Fermentadas em
crus silêncios tensos e intermináveis
As estações fechadas do trem que já há muito partiu
E não pude
embarcar. Hoje é só a distância do adeus
Vou levar no
peito o som retumbante das marés altas
A imagem das roupas tal bandeiras suspensas no varal
Das noites que
trocávamos carícias até o amanhecer
As lembranças contraditórias arraigadas no coração
A palavra, qual um punhal, devorada na boca faminta
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