segunda-feira, dezembro 2

Bagagem

O que guardaremos quando as luzes apagarem na vida
Não o poder, nem o sucesso, isso tudo será esquecido
Mas o que viverá é aquele menino de alegrias efêmeras
Prazeres fugazes de quando aprendia a nomear coisas
O eco da voz em cada pronúncia de palavra aprendida
 
Também nos acompanharão as pequenas doces coisas
A flor de laranjeira e os pássaros a cantar pelos galhos
O aroma das alfazemas do campo, o afeto de abraços
Lá no fundo dos sonhos, residirá um quê de remorso
A pedra no estilingue, o pássaro caído, o canto calado
 
Comigo levarei o toque primevo do amor descoberto
Notas de romance compassado, sentir um leve flutuar
Que tão absorto me fez, no delicado contato da pele
Porém descobri que as juras eram só rumor do vento
Soprando os ipês roxos sem flores, sem perfume ou cor
 
Faço-me levar comigo, também, o que não teve brilho
A inocência há muito perdida e as ilusões rescindidas
Fermentadas em crus silêncios tensos e intermináveis
As estações fechadas do trem que já há muito partiu
E não pude embarcar. Hoje é só a distância do adeus
 
Vou levar no peito o som retumbante das marés altas
A imagem das roupas tal bandeiras suspensas no varal
Das noites que trocávamos carícias até o amanhecer
As lembranças contraditórias arraigadas no coração
A palavra, qual um punhal, devorada na boca faminta


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