Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
sexta-feira, janeiro 31
O lago
O lago, lâmina liquida qual espelho, me reflete a
face
Tímida
página lírica me vejo entre monstro e médico
Esquivo-me do
feitiço da bruxa de olhar petrificante
Miserável,
deslumbrada que ronda a sílaba do poema
Para que o maltrato
transponha ao papel seu retrato
Súbitos olhos,
pálida face de sobrancelhas enganosas
Epitáfio no frio
mármore celebra cruel aos passantes
Pedra de indiferença
a muitos, sofrimento de outros
Na desfaçatez sedutora para a morte não há véspera
O
poeta deseja ir adiante e ninguém mais se atreveria
Um amante das
palavras que outros não ousam dizer
E assim se faz palavras
afrontosas, pausas e silêncios
Que a pena seja a
lanterna acesa em plena escuridão
Não há motivo para
alarme na noite é comum alarido
Lágrimas lentas e
difíceis, lágrimas súbitas e fugazes
Avançam nas
incansáveis rodas dentadas do sistema
De tudo fôra o beijo,
rastro rubro na borda da taça
A saudade maior que
restou d’algum amor candente
A vida se esgueira dentre
as veredas de chão úmido
O poeta sonha entre
versos emudecidos de espanto
domingo, janeiro 5
Mel
Depois que meus
passos caminharam para o crepúsculo
Sonhos mortos
deitam sua inutilidade ao longo dos dias
Minha devoção frustrada expõe sua súbita cor sombra
Rios suspensos
flutuam, no céu, cinzentos para o
oeste
Relâmpagos brilham tal insólitos nenúfares transitórios
Quando a alegria com que banhou meu outrora, partiu
Meu coração
retransido pela dor não mais pulsou igual
Guardei no peito a incandescência de vulcão
reprimido
Teu nome que não pronuncio, ainda retumba ao vento
Ecoando na minha
voz que um dia tentou te encontrar
Teus lábios celestiais diluíram-se em
espumas imemoriais
Destroços da
loucura de nos amarmos até o naufrágio
Mas o tempo devolverá a agitação do mar à minha porta
E uma sensação azul entre meus dedos, beirando sorriso
A aurora me despertará no espírito um lume
impetuoso
Tal chama fugaz que traga seus fachos a iluminar bosques
Vou deixar que estrelas brilhem eternas nos meus olhos
Cruzar mares e desertos, não mais assaltado por trevas
E o verso desvendar enigmas de paixão, no mel inocente
Com os quais, singelamente, o amor os seus favos
fabrica
sábado, janeiro 4
Ode do Poema Alado
Pássaro
celeste, fábula girando em espiral
Entre nuvens
de espelho em um céu claro
Foram os
baques da vida que te ergueram
Um palácio de
gelo e silêncio ao teu redor
Fez da solidão
tua estátua mais cintilante
Mas ainda te
levantas das terras sombrias
No sonho que te
guia pela tão longa noite
Nesse encanto
ímpar de tão
drástico voar
Sob o coro de
astros, liberto de toda raiz
Assim é viver alado
do ofício de escrever
E desnudar segredos, desvendar labirintos
Sorvendo em
negra taça, místicos licores
Transportar-se lúcido aos domínios do sol
Pelos angélicos degraus da escada ao céu
Nas madrugadas indormidas sob os astros
És o alquimista que faz de palavras
versos
E as deixas a flutuar, tais pérolas mágicas
De fabulário,
enigma de todas tuas vidas
E, leve tal o
vento, reinar em teu alcácer
A criar sorrisos
e lágrimas do teu poema
Página Virada
Viras a páginaA mesa postaPensasO cenárioOs atoresViras a páginaMóveis em silêncioEsperasA folha do poemaCandelabros sonorosOs relâmpagosMais outra páginaAdivinhasO céu da noiteTatuado de relâmpagosEm teus olhosQue cortam o arNo subúrbio da memóriaUma página vaziaE palavras mudas
sexta-feira, janeiro 3
Dez Anos
Há dez anos a sorte, no tear do tempo, venceu a mortePara calar-me
o lamento em meu mais solitário momentoN’um vale
silencioso onde se quedam mudas as palavrasOnde o canto
dos mortos convida, a invadir os ouvidos O que teria me
salvo da sanha dos vermes, longe do céuDo salmo
augurado pelo profeta da vinda de dias vaziosEnredando rezas de música tinta de ufania e desesperoOnde revi todos temores escondidos detrás das portas Com os braços
prostrados ao longo de meu corpo, ouviOs sentidos
navegarem à deriva, revolvem sem controleSem contar com
a farsante da esperança, entreguei-meA imaginar o que iriam me escrever ao rodapé da tumba Mas ela surgiu, num lampejo com seus olhos
cristalinosSilente de pecados, para interromper a minha
despedidaTomou meu coração nas mãos e fez escondê-lo do anjoComo jamais poderei me olvidar essa cena mais
sublime Fecundando meu delírio, deu a luz a meu maior poemaE no que seria o último cortejo, uma via de tormentosFez do barro, desprendido da terra, tornar-me humanoNão o demônio recriado, mas um mestre exilado do céu
Deu-me nestes traços, versos com olhos de crepúsculoUm novo ar, uma mente penetrante que ousa escreverDeu-me dilúvios de lágrimas, dores incontáveis e
visõesE mesmo
continuando mortal, a cada fim um recomeço
quinta-feira, janeiro 2
Fumarola
Tudo se afoga
sob os traços de minha pena, a tinta é um mar
Onde não valem
escafandros posto que nesse mar nada
salva
Mais que fosse
rio, correndo cheio de pulso entre as pedras
Qual estátuas
de sal, imagens sem vida ou lampejos fúnebres
E assim também
as peças de meu esqueleto, já ora cansadas
De manter-se
em equilíbrio, buscam repouso na água gelada
Por todas
estas águas havemos de beber, outras que chorar
Essas lágrimas
que não irão aflorar do peito entre memórias
Um museu de
lembranças a se contemplar com olhos rubros
Quais brasas
vivas a olhar na pálida gema dos anos passados
O mundo anda estranho, um lugar frio que nem vale
lembrar
Como um amargo
sol cálido, emboscado num perfume floral
Em tardes de
verões de outrora, tempo de lírios e de heróis
Onde as asas
abertas são de abutres que contemplam o fim
Contemplo o ar
tão denso de orvalho que é quase um olhar
Os caminhos
irregulares tais as bordas de minhas cicatrizes
Sob um céu que ainda carrega nas costas todas as
estrelas
Que nos tempos da infância carregava e a fumaça
ocultou
E lá adiante, volta ao rio, que corre manso
entre a folhagem
Da minha
janela a paisagem reclama entre densas fumarolas
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