sexta-feira, janeiro 31

O lago

O lago, lâmina liquida qual espelho, me reflete a face
Tímida página lírica me vejo entre monstro e médico
Esquivo-me do feitiço da bruxa de olhar petrificante
Miserável, deslumbrada que ronda a sílaba do poema
Para que o maltrato transponha ao papel seu retrato
Súbitos olhos, pálida face de sobrancelhas enganosas
Epitáfio no frio mármore celebra cruel aos passantes
Pedra de indiferença a muitos, sofrimento de outros
Na desfaçatez sedutora para a morte não há véspera
O poeta deseja ir adiante e ninguém mais se atreveria
Um amante das palavras que outros não ousam dizer
E assim se faz palavras afrontosas, pausas e silêncios
Que a pena seja a lanterna acesa em plena escuridão
Não há motivo para alarme na noite é comum alarido
Lágrimas lentas e difíceis, lágrimas súbitas e fugazes
Avançam nas incansáveis rodas dentadas do sistema
De tudo fôra o beijo, rastro rubro na borda da taça
A saudade maior que restou d’algum amor candente
A vida se esgueira dentre as veredas de chão úmido
O poeta sonha entre versos emudecidos de espanto

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário