quinta-feira, janeiro 2

Fumarola

Tudo se afoga sob os traços de minha pena, a tinta é um mar
Onde não valem escafandros posto que nesse mar nada salva
Mais que fosse rio, correndo cheio de pulso entre as pedras
Qual estátuas de sal, imagens sem vida ou lampejos fúnebres
E assim também as peças de meu esqueleto, já ora cansadas
De manter-se em equilíbrio, buscam repouso na água gelada
Por todas estas águas havemos de beber, outras que chorar
Essas lágrimas que não irão aflorar do peito entre memórias
Um museu de lembranças a se contemplar com olhos rubros
Quais brasas vivas a olhar na pálida gema dos anos passados
O mundo anda estranho, um lugar frio que nem vale lembrar
Como um amargo sol cálido, emboscado num perfume floral
Em tardes de verões de outrora, tempo de lírios e de heróis
Onde as asas abertas são de abutres que contemplam o fim
Contemplo o ar tão denso de orvalho que é quase um olhar
Os caminhos irregulares tais as bordas de minhas cicatrizes
Sob um céu que ainda carrega nas costas todas as estrelas
Que nos tempos da infância carregava e a fumaça ocultou
E lá adiante, volta ao rio, que corre manso entre a folhagem
Da minha janela a paisagem reclama entre densas fumarolas

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