Fumarola
Tudo se afoga
sob os traços de minha pena, a tinta é um mar
Onde não valem
escafandros posto que nesse mar nada
salva
Mais que fosse
rio, correndo cheio de pulso entre as pedras
Qual estátuas
de sal, imagens sem vida ou lampejos fúnebres
E assim também
as peças de meu esqueleto, já ora cansadas
De manter-se
em equilíbrio, buscam repouso na água gelada
Por todas
estas águas havemos de beber, outras que chorar
Essas lágrimas
que não irão aflorar do peito entre memórias
Um museu de
lembranças a se contemplar com olhos rubros
Quais brasas
vivas a olhar na pálida gema dos anos passados
O mundo anda estranho, um lugar frio que nem vale
lembrar
Como um amargo
sol cálido, emboscado num perfume floral
Em tardes de
verões de outrora, tempo de lírios e de heróis
Onde as asas
abertas são de abutres que contemplam o fim
Contemplo o ar
tão denso de orvalho que é quase um olhar
Os caminhos
irregulares tais as bordas de minhas cicatrizes
Sob um céu que ainda carrega nas costas todas as
estrelas
Que nos tempos da infância carregava e a fumaça
ocultou
E lá adiante, volta ao rio, que corre manso
entre a folhagem
Da minha
janela a paisagem reclama entre densas fumarolas
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