A Cæsar
Meus despertares de poeta nunca
me trarão riqueza
Contudo, não sei deixar meus dedos vazios e
calados
Não basta a meus olhos olharem as coisas do mundo
Se vejo a solene angústia dos
hospitais e das calçadas
Da cidade enferma rodeada de silêncio, de escuridão
Nas marquises apinhadas da sociedade de olvidados
São miseráveis a quem viramos o rosto para não ver
A acolhedora cidade onde cresci, sofre dessa
febre
E ignora essa gente silenciosa que brota com
a noite
O que posso eu, um poeta, se
não o fazem poderosos
Enquanto as fábricas apagam as
luzes e engrenagens
Os togados se jactam de virtudes há tanto excluídas
Que hino cantarei se o hino pátrio é quase subversão
Se o sabiá já não tem palmeiras e nem podem gorjear
Se o verde amarelo agride aos
senhores de verdades
Tão escuras e frágeis, qual vampiros ocultados da luz
E suas malditas estórias golpistas, contos fabricados
Nossa gente nos subúrbios calados pela fome
e medo
Mas, não olvidem, pois nós estamos por toda a parte
Nosso verso restaurará a beleza nunca d’antes
vista
Somos o verso, mas também o reverso de suas moedas
E dando a César o que é de César, o troco ainda virá
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