sexta-feira, fevereiro 14

A Cæsar

Meus despertares de poeta nunca me trarão riqueza
Contudo, não sei deixar meus dedos vazios e calados
Não basta a meus olhos olharem as coisas do mundo
Se vejo a solene angústia dos hospitais e das calçadas
Da cidade enferma rodeada de silêncio, de escuridão
Nas marquises apinhadas da sociedade de olvidados
São miseráveis a quem viramos o rosto para não ver
A acolhedora cidade onde cresci, sofre dessa febre
E ignora essa gente silenciosa que brota com a noite
O que posso eu, um poeta, se não o fazem poderosos
Enquanto as fábricas apagam as luzes e engrenagens
Os togados se jactam de virtudes há tanto excluídas
Que hino cantarei se o hino pátrio é quase subversão
Se o sabiá já não tem palmeiras e nem podem gorjear
Se o verde amarelo agride aos senhores de verdades
Tão escuras e frágeis, qual vampiros ocultados da luz
E suas malditas estórias golpistas, contos fabricados
Nossa gente nos subúrbios calados pela fome e medo
Mas, não olvidem, pois nós estamos por toda a parte
Nosso verso restaurará a beleza nunca d’antes vista
Somos o verso, mas também o reverso de suas moedas
E dando a César o que é de César, o troco ainda virá

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário