quinta-feira, fevereiro 6

Pegadas na Areia

Poeta, porque apagas da folha teus escritos
Como a maré alta apaga da areia as pegadas
Sem misericórdia, recuar o papel ao branco
Qual quem após a perda, flerte com a ilusão
Todavia, saibas que o tempo não volta atrás
E na folha quase branca restará um balbucio
Do que já fora ontem escrito a te denunciar
Como resta no fundo do peito a melancolia
Mágoa que se prolifera tal qual erva daninha
 
E lá ainda estará tua musa tão leda e faceira
Como no dia que partiu, antes de raiar o sol
E tu que lhe lavraste e semeaste teus versos
Ora queres negar que a ela fosse a tua lavra
Saibas que resta nos dedos uma nódoa azul
Que sem saber a pena a adquiriu no tinteiro
Tão fresca, úmida e fértil pronta a germinar
Palavras cortesãs que tu almejavas tão fiéis
Ainda cintilam e não te permitem olvidá-las
 
Não julgues que o cântaro irá transbordar
Sem que te empenhes a levá-lo à nascente
Não esperes a maça madura no frio inverno
Ainda ardem os olhos sob a luz do deserto
Do peito vazio, silabas fugidias das frases
Não são, qual serpentes, boas conselheiras
É chegada a hora de apenas virar a página
No silêncio tangível e cintilante do oblívio
Retomar tua vida dos demônios d’antanho
 


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