quarta-feira, novembro 12

Elétrico

 

Andava pelas ruas
Numa tarde elétrica
Relâmpagos ciscam
Entre nuvens cinzas
Olho as portas fechadas
Ausências na calçada
De repente música
De um rádio distante
Entre trovões e vento
A soprar folhas caídas
Lembro olhos meigos
Que brilham na janela
Mas repentinamente
Um raio tudo silencia
Chegando o entardecer
Um longo caminho
Nem sons, nem olhares
Foram-se tão breves
Para não mais voltar

 

sexta-feira, novembro 7

Lampião

 
No amanhecer da noite entre lençóis
Achego-te lânguida em meus braços
Tua figura envolvente meio à batalha
Ao pé do ouvido, me confessas amar
Sílaba que tu insinuas discreta e lenta
Na névoa oculta de silentes falsidades
Das cinzas olvidadas em dias passados
Desembainho a espada com um sorriso
E olho-te num quase vingativo silêncio
E assim tu perseveras a me fazer amor
Qual algemas em sentimentos binários
Teu corpo nu desdobrado no colchão
Lá fora, as sombras permeiam as ruas
Pela noite vazia, nenhum sinal de vida
Neste meu abrigo, teu calor contagia
Sentimentos e prazeres se confundem
A porta permaneceu há muito aberta
Longos caminhos te trouxeram a mim
No amargo da ausência foste lua nova
Ora te derramas em vinho e esperança
E o velho lampião acende a eternidade