Como saber da hora assinalada no
terrível escuro lá fora
Que pudéssemos atravessar a rua
na certeza que não há
Por cima de nosso ombro esquerdo o
espreitar da morte
Como saber a
hora que fora dos relógios ou calendários
Nos desse salvo-conduto para
cruzar na agrura dos dias
Para viver livre
dessa dor incurável que veio da infância
Como saber
qual é dessas horas que restou nas manhãs
Onde se desfez no negro veludo
noturno o que era amor
Para ser apenas a angústia, um
silêncio, um vazio abissal
Como saber qual seria a hora de
resgatar um quê de azul
E a memória inda guarde o bálsamo
do campo e do vinho
Sorvido na
avidez amarga da vida sonhada, mas não vivida
Como saber qual a hora no turvo
espelho que nos reflete
Que ainda guarde um brilho antigo
ainda que já distante
Entre os rudes
rastros que o tempo nos acumula na face?
O amor não dorme ou se disfarça: ou
reina ou não existe!
É como o vento da tarde que sopra
um perfume no rosto
Momentos
anônimos residentes de uma breve esperança
Estilhas recolhidas da vida secreta de quando se era alado
Mas tudo passa,
mesmo a noite e seus incêndios de amor
E todas as
promessas serão esquecidas na face das horas
Um dia olharás
para trás e só restou a certeza que é tarde
Nessa hora virão as lágrimas perdidas
a trilhar pelo rosto
Cobrar pelo
amor que se jurou, mas não se permitiu viver
Pelo carinho
negado e ter preferido ter razão que ser feliz
É que para amar por um segundo, na
mais plena verdade,
a vida, nessa hora, te requer a
entrega de uma eternidade!
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