Certo dia ouvi alguém dizer: o poeta não é servo
da verdade
Mas a dicção esconde o real, ao não definir o que
é a poesia
A poesia não é um axioma, nem remata
só uma possibilidade
Não é em si o instrumento que pode traduzir uma
existência
E assim o verso é quase sempre
muito menor que seu autor
Pois a escravidão do poeta é a insubmissão ao esquecimento
O que o poeta em seus brios doa
ao mundo é a não solidão
E esta se encontra no plano
cósmico, além da compreensão
Os contares do poeta não
sucumbem à imensidão mundana
A qualquer tentame de
tranquilidade por mais que exausto
Ou ainda que um peso secular
lhe pouse sobre as pálpebras
Sempre haverá reminiscências a incitar a pena
sobre o papel
Para derramar sobre este os
retalhos do tanto que foi vivido
Para que outros corações se apropriem do sorriso ou da dor
Que versos felizes
ou dilacerados trazem na alma do poema
O mínimo invólucro do poeta em concepção no
pensamento
A ideia do artista se revolve
em ventre no universo do pensar
Como se a compreensão do cosmos se lhe confiscasse
a alma
Exigindo que fosse interrompida a vida real em
nome da arte
E falar que essa necessidade quase insuportável de
escrever
Vem lá das entranhas ansiando
subverter o próprio destino
Como se uma única palavra
pudesse calar ao deserto do ser
Curar essa ferida que decorre do sacrifício de só
sobreviver
Quando o que se quer é
uma vida plena de alegria escancarada
É imperioso coragem para decompor a realidade em quimeras
Há no verso a força quando a sombra parece intransponível
Pois muitas vezes as tempestades íntimas surgirão do
poema
Quando a vida é resistir e vencer a angústia e
seus mistérios
Quantas alvoradas o verso não emana como lágrimas
na face
Por reconhecer quanto medo pode haver diante do
precipício
Para não permitir as palavras enclausuradas dentro
do peito
Propor que ainda é possível
sonhar outra vez, apesar de tudo
Ser poeta é ter a fibra de ser
o protagonista da própria vida
Achar forças na pluralidade das
opções e gritar não ao abismo
Saber que cada cicatriz desvenda
uma história nesta existência
Reunir todos os eus na sua multiplicidade para revelar-se nu
E mesmo desolado manter o
dever de regatar algo bom em si
Conviver e confundir-se com
aflições que lhe povoem os dias
Até ver a lua surgir prata e luminosa orbitando ao seu redor
Andar pelo sempre na busca infindável da flor chamada amor
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir