Cai a chuva cotidiana
no final de tarde, os transeuntes vão e vem
Correm a se
esquivar das gotas brutais ocupando ruas e calçadas
São sombras sob
a chuva enquanto traço estas linhas desabridas
Coletadas dentre
a mais crua realidade de memórias gramaticais
Refeitas da antologia
mera de palavras ditas quase em desespero
Caídas de uma
boca que se abre mais como gesto que como grito
E não há
revelação a transcendermos, no fim só nos resta soluçar
Abatidos
seguimos adiante carregando uma réstia de lembranças
Parcos frutos
de uma consciência degredada, uma ilusão de ótica
Levante a voz, não sejamos um eco hesitante do que fomos ontem
Até exaustos, impende ter em
mente muito mais que conjecturas
A noite se adensa, as nuvens se
desfazem no reflexo prata do luar
A luz flava do poste se dissipa em
sussurros sobre o negro asfalto
O letreiro em neon nos dá um
infido conceito de vã modernidade
Continuamos presos em murmúrios
às máscaras da conveniência
No espelho da
verdade somos só fantasmas em nosso próprio eu
Aguardando
que desça sobre nós o mármore infinito e o silêncio
À sombra da velha árvore há ecos
áridos trespassados pelo tempo
Apesar do voo dos pássaros e das
nuvens a alma não se fez serena
O rosto
refletido nas côdeas da aurora mostra uma efígie infernal
Na infinita ousadia de aspirar transcender
à inefável imortalidade
Traz o signo
de ícones ancestrais e lhe pulsa um indefesso coração
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