Femina
Uma amiga morreu no lar onde devia ser
seu refúgio seguro
Sua lembrança me devolve às ruas da
infância, pipas e piões
Lembro-me da sua boca pequena confiada
a tantos sorrisos
Tempos que não haviam balas perdidas
ou punhais erguidos
Como se pudesse tomar distância dos
ardis da modernidade
Pela janela do trem, vejo a sombra a
contornar a paisagem
Rodas e trilhos são qual um tambor
desafinado no caminho
Conspiram cinzas ao passarem as
últimas praças com flores
São qual ecos do entardecer que se
embriagam pela cidade
A assustar cães vadios que comem
restos na beira do trilho
Onde também dormem os viciados
condenados ao fracasso
Essa paz ilusória oferece seu engano a
todos os impostores
Se o tempo não volta, a mão assassina
vem em duas rodas
A própria carnalidade se faz ameaçada
a cada desatenção
Políticos ou togados não! Sobrevoam o
mundo sem tocá-lo
É tão difícil quão não é prudente,
levar luz delatora a eles
Não são vícios na paisagem que
lastimo, sim o despropósito
O aço cravado nas costas da mãe
mulher, pela impunidade
Desculpas não logram enganar-me,
porque é hora de reagir
Não como lamento que chega
extemporâneo, sim aqui e já
Mostrar-lhes o ruído de nossas armas,
da caneta e o papel
São seis da tarde, o retorno da cidade
chega a seu clímax
Em um sinal oculto ou uma língua que
fale o idioma da luz
As noites vão e vêm e pessoas mendigam
um naco de Deus
E o respeito pela vida segue
abandonado, nu de intenções
A marca do corte, a ferida esquecida,
o gole frio do café
Cascalhos urbanos, o rosto da cidade
sobre a mesa do bar
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