Estio
Tocou uma
canção triste e esquecida na velha vitrola
O vento
resolve trazer lembranças cobertas de musgo
Na casa vazia,
porta e janela fechadas, da tua partida
Num remoto
carnaval da alma, vesti fantasia de poeta
Esparramei
confetes de palavras e versos serpentinos
Teria sido
somente o desatino de meu pássaro cativo?
Sei que isso
me trouxe sol e calor quando era inverno
Trouxe flores
que desabrocharam em meu peito vazio
Levou o sofrer insano de não ter quem chamar querida
De desenganos em desenganos, já não vivo de
ilusões
Mas sei quem
me acolheu, quem calou o meu lamento
Que surgiu e me devolveu o vigor para tecer os versos
Sopra o vento
peregrino e o vozerio dos mortos se vai
Muito antes que eu canse de te olhar, a noite chegará
Eu mirar-te-ei
de novo e de novo para nunca te perder
Esperei
pacientemente por tua chegada ao meu porto
E agora ai estás viva, táctil, qual a luz a romper a
noite
O rumor da ventania já vai se silenciando na distância
Chega o estio por estas paisagens ainda adormecidas
A alameda em
flor, cálida, se estende até o horizonte
No fim da
estrada a serra recorta da paisagem, o azul
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