Um Dia Desses
Um dia desses
ir-me-ei embora, restará o canto dos pássaros
Persistirá o
jardim que fiz plantar e o verde de suas árvores
Além disso
restarão em azul todas tardes plácidas dos céus
Será possível,
nas manhãs de domingo ouvir os campanários
O amor que
tenho não morre comigo ou olvido que te amei
Talvez, tu
sintas saudades das sestas nas tardes sonolentas
Ou ainda de
toda risada feliz que demos deitados na grama
Enquanto meu
espírito errante assistiria a tudo, nostálgico
Mas, se tu que
fosses embora, não haveria os céus plácidos
Não haveria
cor, azul ou verde ou pássaro nenhum a cantar
Meu coração
seria uma eterna geleira dos invernos austrais
A primavera
jamais regressaria e o jasmim não teria perfume
E qualquer o
tempo que restasse, esse tempo não seria meu
Mas tempo para
lamentar, sangrar de dor, chamar teu nome
Afasto esses
pensamentos e visitam-me imagens da infância
Onde tudo era
belo e eu escutava a chuva chegar no vento
Tempo mágico
de folguedos, do harpear do realejo na praça
Relato que me
invade nesta tarde de esperança e abandono
Estendo a mão,
oculto a tristeza: não é mais hora de chorar
Agora que o
sol já declina, não poderei mudar o que passou
Mas eu serei
teu e tu serás minha, enquanto o sonho existir
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