Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
quinta-feira, março 23
terça-feira, março 21
Caráter
Querem que eu
viole as leis, as ordens e os sistemas
Confesso não ter
a capacidade que exige um absurdo
Não será assim
que terei uma vida próspera e segura
Devo me desculpar
por essas minhas lerdezas diárias
De meus erros,
maiores ou menores, contra vontade
Mas não guardo
alguma vergonha por essa bobagem
Pois eu posso
transitar por planícies cheias de flores
Sei a resposta de
perguntas que nunca foram feitas
E se quedar
escuro sei de cor as linhas de teu rosto
Sei inventar
estórias de horas etéreas e sonhadoras
Da doce liberdade
e da ternura que mitiga solidões
Não entendes que
neste século vinte um sou poeta
Posso viver sem
saber contabilidade ou ser político
É verdade, tens
razão, estou fora deste tempo, mas
Se um dia por
eventualidade me levarem ao cárcere
É que presos
estão, os que restaram do lado de fora
Ó Poema
Ó poema, nesse
teu sonho de nuvem aquieta-me o pranto
Sou
prisioneiro desta angústia que desponta no horizonte
Bato às portas
fechadas do bem querer, estarás a dormir?
Não ouço o
doce tilintar dos cristais estendidos ao vento
Nem o canto do
pintassilgo nos ramos pálidos da amoreira
Abre-me as
janelas às auroras dos teus mananciais de mel
Mostra-me o
rumo nestes caminhos errantes de concreto
De volta aos
cálidos riachos nos vinhedos da brisa estival
Para juntar-me
aos pássaros em sua dança sedenta de ar
Ó poema
sonha-me um novo destino na canção vespertina
Minh’alma inda
lamenta sob o espelho da lua à meia-noite
Revive o fruto
de verdes soledades nos orientes maduros
Redime-me no
perfume das flores, no peitoral das janelas
Deixa
rescender pelos campos o cheiro da terra molhada
Ao fim da
chuva aprazível fresquíssima, pintes o arco-íris
Cantes
cânticos de desmedida melodia de sons e silêncios
Faz-me ouvir o
assíduo beijar terno das ondas à beira mar
Em meu peito
povoam ânsias secretas, na espada e o lírio
Ó poema,
derrama do teu doce orvalho neste meu delírio
segunda-feira, março 20
Nada
Meu primeiro gesto foi romper os grilhões do desespero
Encontrar as chaves para não voltar a errar ou me
iludir
Mas antes eu precisava esquecer, quem eras e quem fui
Mas a semente de meu coração ceifado, enfim frutifica
A ironia é saber que tu dizes, que perdeste mais que
eu
Será que faltou do céu que dizias: véu cinza de
palavras
Não tens moldura bastante para exibires fictas
pinturas
Daquilo que nunca viveste, do amor que não entregaste
Quiçá tivesses visto o meu olhar refletido na tua
espada
Verias que minha arma é a verdade, minha defesa a asa
Acordo a cada dia, com a boca amarga do que não disse
Apenas por querer não te magoar, só por ser verdadeiro
Gastei muito tempo para pôr em pé meu corpo dolorido
Quando 0 silêncio atroz vestiu o lugar da rosa
vermelha
E agora é hora de caminhar, deixar a melancolia de
lado
Recobrir todas paredes com pastilhas coloridas e
cantar
Aliviar o coração desintegrado do dia a dia de
segredos
De olvidar este quase luto, corroído de tanto tormento
Pois cerrei os olhos e teu grito já não me queima a
alma
Abdicaste do abraço e das palavras, esse nada só é teu
sábado, março 18
Palavras Encurraladas
Sei da morte
próxima, quando morrem as margaridas
O fato é
inevitável, mas ninguém idealiza por morrer
Gladiamos ao
espelho, obscuros prélios com as rugas
Ter o rosto
que nem é nosso rosto, se dita a verdade
Mas, não temos
a mesma assiduidade para os amigos
Olvidamo-os em
adversidade, cativos das aparências
Se não trazes
abraços, é melhor fechar o livro e até
No teu olhar
escuro, fulge uma tormenta à espreita
Todos sabemos
que a chuva é longa e o vento sopra
Podes abrasar
campos de relógios, o tempo não para
De nada
adianta se esconder, quando se é o predador
Se todo dia
cruzamos a duvidosa linha do bem e mal
De sentir
alívio por saber que há mais pobres que tu
Tereis largado
mão dos reais significados de triunfo
Só o fogo é
sempre jovem, ao voo de tantas línguas
Que caminham
devorando o que acham pela frente
Sua avidez
devora até fartar e suicida-se à beira rio
Mas a nós
resta tentar voar, na imaturidade do voo
Nuvem no céu
não é prenúncio de noites estreladas
Sobre a terra,
os restos do sol rubro ainda refulgem
Na minha
espera, a tarde redobra os aromas felizes
E eu que
queria não deixar as palavras encurraladas
Estações
O frio do sul
não me trouxe jardins
Antes
destroços de rotos jasmins
O leste
mostrou-me sua umidade
E os rouxinóis
perdidos na cidade
No oeste vi,
invés de flores, espinhos
O gosto amargo
do tanino dos vinhos
Ao norte havia
um anjo amordaçado
Nas pedras do
caminho empoeirado
A olhei nos
olhos, vi sua íris, inocência
Soube ali
mesmo um dia seria ausência
Senti a
vertigem da perda juro quis fugir
Mas, tarde era
e eu só pude sucumbir
Não resisti
aquela essência de cristal
Entreguei-me.
Cumpra-se a pena capital
Sem piedade,
nas pedras pisadas do porto
Tu que lês,
lês de um homem já morto
Vês-lhe as
esplêndidas feridas e a dor
Do poeta
insano que morreu de amor
quinta-feira, março 16
Apostaria na Poesia
Há pouco, a
noite veio segredar que tu voltarás
Tergiversei,
disfarcei, mas enfim, fingi acreditar
Então abri as
janelas e suas tintas descascadas
A quem a lua
finge emprestar seu azul prateado
Para olhar na
curva da estrada onde te vi partir
Não acho que
voltes. A noite mente ou inventa
Mas se fosse
prá apostar eu apostaria na poesia
Fingirei
esquecer o cio que percorria teu corpo
Quando eu me
punha a mirar-te e tu descobrias
Então vinhas
silenciosa, trazer beijos de veneno
Envolver-me
n’um apertado abraço de serpente
E já que
sempre fugiste de todo sentido comum
Não espero a
verdade nem nos oráculos do tarô
E se eu
tivesse que apostar, apostaria na poesia
Eu farei de
conta que não te esperei noites a fio
Que te ver
nada muda em mim, agita ou acelera
Que o sonho
não domina, o real que faz sentido
Nas frias
paragens indormidas dessa madrugada
Mas minhas
emoções mutantes se não me calam
Fazem que as
palavras neguem tudo o que digo
E se fosse
para eu apostar, apostaria em poesia
Imaginei a
poesia subjugando a morte, vitoriosa
Pondo-te em
meus braços, sem te deixar partir
terça-feira, março 14
Olhos Cerrados
Dorme a
madrugada na neblina silenciosa de olhos cerrados
Quem se atreve
nessa penumbra de contrastes querer saber
Onde finda a
jornada, quando tudo se esclarece vindo à luz
Memórias
perdidas qual uma lembrança materna da infância
Ou do engano
d’um amor juvenil, que se foi para nunca mais
Trazidas de
volta, tal quem abriu caixas guardadas no sótão
Há quem diga
que o advento da morte é algo assim, um filme
Onde se verá
tudo aquilo que já passou e parecia esquecido
Num excêntrico
pensar ver a árvore da raiz à copa mais alta
O mel e o fel,
o delírio e o abandono, todo vento e calmaria
Porém não se
pode voltar e repisar antigas pegadas na areia
Histórias de
velhas marcas, que o vento oportuno já apagou
Nos labirintos
da lembrança são só sentimentos desbotados
Pelas quais
não se deve voltar a sofrer fazendo nova versão
A vida pede o
agora límpido, sem olhar pelas vidraças baças
De outros
dias, nem esperar as ilusões dos futuros incertos
Não fazem pães
do trigal que o incêndio de ontem queimou
sábado, março 11
Justaposição
Os versos
estão ao poema, como o sangue é às veias
Palavras de
veia em veia, o sangue de verso em verso
Estrofes são
trens de palavras que andam por linhas
Cada linha uma
estação, verão ou inverno à escolha
Talvez um dia
saibas diferenciar da música, o poema
Antes que vá
mesclar ao corpo na meia noite escura
Mares de
ideias flutuam sobre um abismo esquecido
Pois então
escondo este pequeno poema sob pedras
A salvo das
ternuras e de qualquer rumor de alegria
Que te desvie
dos caminhos que escolheste a seguir
Há girassóis
nas orlas do caminho justo nesta poesia
Como poderias
sofrer em paz se em nada há sentido
Corvos em
loucura voadora, voam sem saber porque
Até que a lua
subida ao céu ponha fim a seu festejo
Dentro do
peito guardo uma imagem de lírio, delírio
A distância
beija a flor, de flor em flor, tal beija-flor
A luz das
madressilvas, em coro, nos convida a calar
Talvez se
possa entender, na inocência das crianças
Que se pode
num só sorriso, entregar o melhor de si
sexta-feira, março 10
Que pena
No silêncio da
noite, reminiscências vêm me invadir
Um pensamento,
um segredo, torrentes de lágrimas
Chamo teu
nome, mas sei que não poderás me ouvir
Se eu pudesse
ser livre, voar como o pássaro antigo
Quebrar os
grilhões dessa lembrança dentro de mim
Poderia correr
pelos campos, caminhar entre trigais
Sentir a chuva
fria bater no meu rosto, lavar a alma
Gritar
selvagemente, à tarde rir despudoradamente
Com os braços
abertos, cumprimentar o sol poente
Sentado à
beira-mar e o livro que escrevi nas mãos
Solene
Olhos que me
olham
A alma que me
sorri
Nos versos
desenho
Bela moça em
cristal
Esperando o
teu sinal
Minha angústia
solene
A me exigir
metáforas
Goteja
palavras chuva
Palavras doces
de sol
De ré, fá ou
si bemol
Ar e terra, o
sino toca
Em estranhas
sintaxes
Busca estrelas
a tocar
Musgo ao pé do
muro
De cabala e
esconjuro
O arco-íris
pela noite
Abre asas de
carícias
O fogo arde
devagar
Exala aromas
de flor
Moça quero teu
amor
quarta-feira, março 8
Rua XV
Na rua XV,
músicas e decepções vêm se misturar
Co’as mãos nos
bolsos ele anda na madrugada fria
Ele busca a si
sob o fulgor das lâmpadas amarelas
Do café pouco
adiante vem o som d’um acordeão
Que toca um
tango noturnal sobre dor e fracasso
A melodia
triste abriu-lhe duras chagas incuradas
Rompendo
amarras perigosas de lembranças vãs
Quem
recordaria velhas histórias de dias outonais
Outro bar, u’a
voz feminina canta ao som do piano
Fala de
vingança e perdão e a noite se faz tão fria
Fecha o
casaco: memórias são lâminas cortantes
Não há agonias
inéditas, as carrega tal parte de si
Vem daquela
esquina o solo de guitarra lamentoso
Falando de
dias imemoriais e seus amores partidos
Que destino
cantará no som que invade a calçada
Canta
insustentáveis tempos de romance efêmero
A solidão se
espalha na rua embriagada de boemia
Quanto segredo
a noite esconde em bares escuros
Quantas
histórias são ouvidas, nos palcos da noite
São almas
errantes a buscar os resíduos de sonhos
Não foi hoje
que ele encontrou o que veio buscar
Amanhã, quem
saberá o que a rua XV vai reservar
Poema Juvenil
Quando vi seu cabelo em cachos rebeldes uma luz
acendeu
As linhas de seu rosto a me fitar eram o caminho da
paixão
De seu olhar altivo, saltaram fagulhas ao cruzar com o
meu
Não se poderá negar que é o acaso que controla o
coração
Certos amores me trouxeram verões, muitos foram
invernos
Sem que a escolha me coubesse neste carrossel de
emoções
Dia e noite passam e os sentimentos que desejamos
eternos
Esvaem como fumaça, toda esperança torna-se em
aflições
Não foi diferente, nem poderia ser, não permiti fosse
assim
Tranquei todas as portas, não deixei-a se aproximar de
mim
Foi nessa estrada de espinhos que construí o meu
caminhar
Sem auroras, sem horizontes e sem alguém que possa
culpar
Meus erros, minhas escolhas, carrego a sina que eu
escolhi
Sabe-se lá um dia, eu aprenda dizer que sempre gostei
de ti
terça-feira, março 7
Estrela Mulher
Se caíste das
estrelas, de que bela matéria te fizeste
Às coisas
deste mundo, é fato, a nada te assemelhas
Todo ouro se
deslustra, no dourado de teus cabelos
Até o mármore
se entristece, por não ver musa igual
Pois na nudez
de tua pele terna, só à luz assemelhas
Na alegria
primeva do meu olhar, o prêmio de te ver
És qual se a
primavera se multiplicasse em flor e cor
E num momento
embriagante, o acaso trouxe-me a ti
Assim desejei
mãos suaves para revelar tua geografia
E que não
descubras antes da hora todo meu desejo
Desejei ter
sorriso nos lábios e provar o mel dos teus
Escolhi ter o
calor para abrigar a tua natureza felina
Vez que me
devoras, outra que aos beijos me revives
Pedi saber uma
língua que dispense o som ao te falar
E assim te
contar os segredos à orla de teus bosques
Qual
explorador, desejei estar contigo em mil sonhos
Em cada um
foste única tal como o és no mundo real
Quando te
deitas, o tempo se cala para não te acordar
E se passas, o
horizonte em silêncio assiste teu andar
Caminho a ti e
te fazer minha e nunca mais te deixar
Quase de
repente, as nuvens cinzas chovem copiosas
Pobre céu,
chora a falta de sua mais fulgente estrela
sexta-feira, março 3
Eu disse não
Parta comigo,
a vida não espera, disse ela a olhar-me
Não, não
deixes para amanhã, eis que pode ser tarde
Talvez amanhã
a última esperança possa estar morta
Pedi-lhe
perdão por haver amado, por haver sonhado
Pela fantasia
de querer sua boca úmida e flamejante
Só não pude
dizer-lhe que deixasse sua vida por mim
Desde então,
fantasmas sem rosto vêm me perseguir
Infinda
ausência estremece a alma alienada da noite
Choro neste
quarto triste onde as horas se alongam
Quando as asas
feridas do pássaro se partiram no ar
Quis caminhar
para renascer, quis cavalgar no vento
Fugir ao
inevitável anunciado na infinitude da agonia
Quero
restaurar minha fé nestes meus pensamentos
Avançar contra
a tormenta, expor tudo face a face
Labirintos que
o meu coração se perdeu, sem pulsar
E se a chuva
cair sobre mim, que de tudo me redima
Das minhas
lascivas fantasias de desejo e de pecado
Lembrando seus
seios perfumados, na noite de amor
Aos olhos,
bailam fragmentos de histórias insepultas
Que escorrem
no pó da estrada e não se pode voltar
Nenhum Adeus
Peço-te perdão não ter conseguido morrer em teu lugar
Por certo foram muitas as vezes que o tentei sem poder
Jamais foi por não tê-la amado mais, amei mais que pude
Mas foi tua lembrança que me disse eu devia prosseguir
Pois no dia vindouro, eu não iria impedir o sol de nascer
Não consideres estes versos palavras gastas, são apenas
Mosaicos das histórias pendurados nas paredes dos dias
Memórias quais plantei nas floreiras da janela lá de casa
Que agora nascem entre os girassóis com perfume e cor
Eu quis ficar em silêncio entre tudo que lembrava de nós
Mas tua lembrança, rosa companheira de espinhos cruéis
Obrigou-me mudar essa história nas noites intermináveis
E invés de calar-me contigo, me fez cantar o que fostes
Tua terna presença que nunca cairá no limbo do oblívio
Antes, será aquele solo de guitarra que tanto ouvíamos
Enquanto o sol despontava, em meio às flores do jardim
Por fim, este poema não é uma forma de te dizer adeus
Mas incansavelmente regar as lembranças de teu existir
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