Amiúde
O matiz de teus olhos esmaece entre minhas lembranças
A noite se alonga no breu da espera e a oxida impiedosa
Nesses céus gris, o amor sofre da agonia dos nunca mais
Das acres despedidas, madrugadas sem nenhum amanhã
Quanto de mim fez-se silêncio, quanto a noite é silêncio
Íntima e quase namorada, a angústia dos barcos no cais
Mas o amor é pedra cristalina e minha lúcida passageira
É que o amor é a tua chegada e posso ouvir teus passos
Cujos ecos me fazem voar sobre o musgo das ausências
Sorver a ânsia de te ver chegar, minha estrela da manhã
Que reacende meu fulgor, pela certeza de te pertencer
Onde amiúde meu amor clama por teus seios, teu corpo
Nos segredos da noite, mãos que perseguem borboletas
Se te escrevo é por medo de te perder, flor do meu dia
Enquanto teu nome esvoaça em minha boca nas tardes
Tal qual um som foragido da doce surpresa dos sonhos
Que por mais que naufraguem em ti, tu saberás de mim
Como uma vertigem, um sopro convulso de ar e alegria
Pois chegas e desatas o riso que renova o sono em paz
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