Amargo Demais
Encarar o
passado é navegar no rio turvo que nos afronta
Sonhar mas não
dormir sob sussurros inquietos dos astros
Um árido
deserto o qual disputam lagartos e rosas bravas
E qual papel
estás preparado a desempenhar? A ave solta
Entre nuvens
brancas no céu? O capitão de mão de ferro
Um rei
enforcado no jardim? A montanha lá longe do mar
Em verdade
podes olhar a sujeira que o espelho te revela?
O passado é a
fome tanta que até os vermes já morreram
O resto no
prato vazio e que apraz às invencíveis baratas
O passado é o
açoite, centos lábios em gritos e grunhidos
A mais plena
solidão, sem porquês, até se duvida de Deus
Eis que a
fumaça dos incensos ora é a fumaça de canhão
Conheces o
presente? Cheiras ou percebes esse amargor?
Nem assim
olhas a sombra às tuas costas, o que há por vir
O que pode dar
ao desenlace e cobra uma cifra sangrenta
Será que
buscas em tuas axilas um voo qual o do condor?
Nenhum bálsamo
sabe apagar o sofrimento que te fustiga
Olha para a
frente, lá é o presente: risos, gestos e acenos
Esquece o
passado, esquece a chaga traçada na tua pele
São os efeitos
de feitiço forjado por esses verbos inúteis
O passado são
dentes sujos de cáries e amarelos de sarro
É o vômito
espesso, do excremento ao temor e do sangue
O passado é a
mulher - menina afogada pelo sêmen brutal
É o guri sem
futuro estripado ao pé dos muros da cidade
O passado não
move moinhos e nem o ponteiro das horas
O passado se
move fermentado de visões só na tua pupila
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