Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
sábado, abril 27
Mudança
Com que palavra sonho imerso nesta solidão
sexta-feira, abril 26
Água Turva
Procuro-te como o peixe que
nada em seu aquário de desejo
A te buscar na água turva de
dores de tantos outros verões
Dor que só tu apaziguas
nesta instância de abismos e trevas
Por onde sigo, sonâmbulo e
ferido entre a crueza das cinzas
Na lembrança de tempos mais
augustos que tocava tua mão
No ardor da ilusão há a fria
voz que, indiferente, me chama
Mente como se a eternidade fosse cicatrizar a ferida aberta
Na neblina de tua ausência,
na nostalgia cinza de teus olhos
As reminiscências de outra
vida se espalham pela penumbra
No oceano da distância é tudo
tão mais agreste e profundo
O equinócio de vida e morte
se reflete pelos espelhos rotos
Sob a luz boreal que
esconde o tesouro d’um amor perfeito
O sol fugidio resvala pelas
águas do mar, entre as palmeiras
Minh ’alma avança rumo ao arrebol entre ruas que dormem
Cheias de frutos maduros dependurados no
esquecimento
Enquanto oro por salvação na
transparência deste silêncio
Meus eclipses se erguem diante de brancos altares sitiados
As respostas negam as
perguntas do vento soprando do sul
Nem assim movem uma única folha entre ramos acobreados
E o que resta é sonhar com
os movimentos de tua chegada
A cadência exata de tuas pernas, o cliquear de teus passos
Pergunto por ti aos anjos
que encontrei na porta principal
E me disseram que o que importa,
é o caminho percorrido!
quinta-feira, abril 18
Por prazer
Lembro
de tudo, como se o tempo tivesse parado
Toda a
quietude do jardim tem o som d’um templo
Uma atmosfera um tanto ingênua sob tíbias folhas
Na
imagem mais cara da memória em traços finos
Deusa
de olhos levemente orlados de sombra azul
Como os
teus, agudos, inquisidores e perspicazes
No
silente mármore gravado em suavidade sedosa
Dizem
que todos, um dia desses, virão a esquecer
Mas só
nós caminhamos nas alamedas de gerânios
Conversas
abertas sem jogos vertiam um perfume
Ontem quando
escrevia, ouvi um pardal na janela
E por nada,
logo voou pra perto das amendoeiras
Tal como
tu fazias nas margens lentas dos ocasos
Pois sei
que no espelho não há palavra tão bonita
Lembro
de tudo, para ser trivial, tal fosse ontem
Desde que
ouvi a suavidade maciez de teu canto
Do tato
e das centelhas que saltam com o toque
Dessa
tatuagem de traços limpos nunca estática
Como nunca
vós, incultos, podíeis imaginar fosse
Esses teus
lábios de amoras, tersos, tão queridos
Mas que,
cruel destino, nunca me permiti provar
Quiçá o
tempo me force a perder umas migalhas
Mas não
quão desafiamos as profecias zodiacais
Juntando-nos
tal qual nunca seria para se juntar
Lembro
até quando a cidade parecia uma aldeia
Onde
podíamos caminhar sem medo e sem rumo
Lembro
de seu corpo monumento, de seu hálito
Eu
lembrarei de tudo mesmo se o silêncio chegar
Por
prazer escrevo este poema, palavras que não
preciso
escrever, pois jamais me esquecerei de ti
sexta-feira, abril 12
Queda
A praia abraçava teus dourados cabelos banhados do sol
As aves marinhas cantavam teu nome bailando pelos céus
E a brisa cálida espalhava um bálsamo de verão pela tarde
O mar que mansamente beijava a areia, iniciava o ondular
Espalhando o branco da espuma até onde se pode avistar
Das falésias vimos o crepúsculo despedir em raios rubros
Lembro o doce brilho intangível de teus olhos luminosos
Quais faróis salvando da velha dor selvagem e angustiosa
E no teu seio fui aprender a sorrir e desdenhar da morte
Mas o riso certo dia calou-se e vieram trevas impetuosas
E a melancolia fria qual um lamento tomou conta de mim
Um abismo onde antes fora o brando horizonte azulado
Torna a clara paisagem limitada ao infortúnio misterioso
Da imagem de teu corpo, triste, e as espumas em sangue
De suas asas imóveis, conspirando a um transe pungente
Cena e forma incipiente debaixo de meus olhos atônitos
Numa múltipla certeza de uma queda e de um final veloz
De um único sopro e o vento a sacudir tuas leves vestes
E o encontro com as duras rochas foi um só pensamento
Uma dor instantaneamente agigantada num golpe de luz
Assinar:
Postagens (Atom)