Por prazer
Lembro
de tudo, como se o tempo tivesse parado
Toda a
quietude do jardim tem o som d’um templo
Uma atmosfera um tanto ingênua sob tíbias folhas
Na
imagem mais cara da memória em traços finos
Deusa
de olhos levemente orlados de sombra azul
Como os
teus, agudos, inquisidores e perspicazes
No
silente mármore gravado em suavidade sedosa
Dizem
que todos, um dia desses, virão a esquecer
Mas só
nós caminhamos nas alamedas de gerânios
Conversas
abertas sem jogos vertiam um perfume
Ontem quando
escrevia, ouvi um pardal na janela
E por nada,
logo voou pra perto das amendoeiras
Tal como
tu fazias nas margens lentas dos ocasos
Pois sei
que no espelho não há palavra tão bonita
Lembro
de tudo, para ser trivial, tal fosse ontem
Desde que
ouvi a suavidade maciez de teu canto
Do tato
e das centelhas que saltam com o toque
Dessa
tatuagem de traços limpos nunca estática
Como nunca
vós, incultos, podíeis imaginar fosse
Esses teus
lábios de amoras, tersos, tão queridos
Mas que,
cruel destino, nunca me permiti provar
Quiçá o
tempo me force a perder umas migalhas
Mas não
quão desafiamos as profecias zodiacais
Juntando-nos
tal qual nunca seria para se juntar
Lembro
até quando a cidade parecia uma aldeia
Onde
podíamos caminhar sem medo e sem rumo
Lembro
de seu corpo monumento, de seu hálito
Eu
lembrarei de tudo mesmo se o silêncio chegar
Por
prazer escrevo este poema, palavras que não
preciso
escrever, pois jamais me esquecerei de ti
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