The Writer Within the Wizard
Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
quinta-feira, novembro 14
terça-feira, novembro 12
O Segredo da Lua
A tarde é um
céu opaco na tristeza do entardecer
Impera um
propício silêncio a preceder o temporal
Com o pensamento que germina em todas solidões
Minha voz
nutre-se do alento, na memória do rosal
No tempo
insone que separa a folha receber a
flor
Nas voltas decompostas do relógio em turvas
horas
A peculiar atmosfera enquanto se aguarda a
chuva
As ideias me desertam na espera que a tarde impôs
A crueldade do
calendário de saber tantos ontens
Mas a fugidia
incerteza de que será algum amanhã
As nuvens, num
esgar colérico, troam relâmpagos
Indiferente o ancião bafora seu corroto cachimbo
Cotovelos fincados na janela do outro lado da rua
Sob esfera celeste tão gris algo desgoverna em mim
Como poderia
diante dessa tão refinada paisagem
Não sentir
falta em assoladora e remota ausência
Não, não
queria e nem vou dizer nada dessa
falta
Porém nessa ardente
flora que nasce da ausência
Não colherei flor alguma. A lua e seu porte grácil
Espalha sua
luz pelo céu que as nuvens segredam
sexta-feira, novembro 8
Tuas Letras
Quando o
inverno já apontava na instabilidade dos meus dias
Tu entraste em
minha vida qual a neve no alto da cordilheira
Por mais que
me recusasse, tu brilhaste em mim como um sol
Eu que era
crepúsculo, minhas pétreas premissas
desabaram
Quando me beijaste nos lábios ao vento noturno à
beira-mar
A imagem de teus cabelos esvoaçantes não me sai
da cabeça
Tuas carícias,
qual fugidio vinho, percorrem minhas artérias
Sob a lua das ilusões
minha voz recita versos até o alvorecer
E eu, vítima de teu feitiço, perdi-me no sonho de
tua vinda
Teu incandescente
beijo carmim que me fez ébrio de desejo
E desnorteia o
coração que em meu peito palpita acelerado
Com tua pele
de luz resplandecente a iluminar meu caminho
Chama incessante, assim viajo pelas dimensões de teu olhar
Minhas noites cintilam por ti e os astros e estrelas são tuas
Galáxias inteiras ou um único vagalume perdido, é só por ti
Este poema também é teu, afinal, és tu a razão destas letras
quinta-feira, novembro 7
Desafio
É tão fugaz e
esquivo dar vida ao mistério das palavras
As poesias desde
sempre entranhadas em meu coração
Mas nem assim
me pertencem, assumo, mas me habitam
Numa vida que tive
tanto que andar e de me desgarrar
Inquieto-me em
poder dar ao bronze formas e essência
Súbito descubro
que ao festim foi convidada a solidão
Faço com que a melancolia seja nada mais que
desafio
Prosseguir jogando o jogo entre todas
as minhas idades
Onde os
pássaros cavalgam os ventos, acima das ondas
Abrir a janela, aspirar o campo, o cheiro de terra úmida
E recordar da brisa que se entremeia entre os
arbustos
Mesmo quando dói trilhar pelo caminho da
maturidade
Esquivando-se dos ritos, consultando signos e oráculos
Recorda hoje
as vozes de outrora baterem à tua porta
Relembra da esperança amanhã, porque nunca foi fácil
Pois aqui
estou como menino a cantar velhas
canções
A sorver o novo poema, tal quem sorve a taça de
vinho
O novo poema mais lúcido de um implacável anoitecer
terça-feira, outubro 29
Mutuamente
Corpos noturnos
entrelaçados, artífices da memória e do desejo
Minha pele de
homem, a tua pele de mulher em
verdadeira nudez
Que nem a luz do
sol, nem a fúria do oceano conseguiria separar
A terra toda silencia
diante de nós, corpos tomados pela volúpia
Corpo e alma reunidos, juntos somos o melhor de nossa história
Reunidos somente por vontade, a nudez é a nossa maior
lucidez
Meu corpo ereto
amanhecendo no teu é o que me torna humano
Corpo nu que me acolhe,
tua gruta onde vida e morte coexistem
A noite que aos
olhos do mundo nos esconde não nos traz limite
Olhar no olhar,
inscientes ao que nos rodeia, falamos em silêncio
Sentados frente a
frente, num ininterrupto balanço de vai e vem
Nesse movimento
tal um sonho, o abraço nos liberta das amarras
É a vida que cruza
arcaicos limites, não mais oculto ou surpresa
Lá estamos nós a nos
descobrir, qual paladinos do mutuo prazer
Herança
O crepúsculo é o triste estandarte de nosso adeus
É uma cidade distante onde mora
o esquecimento
Mas em mim
ainda tremula a flâmula de teu sorriso
Que tinha como
mastro e morada esses teus lábios
Essa é a
herança que me coube dos antigos verões
Onde tu eras o monumento que adornava o parque
Porém também eras a árvore com raízes na mentira
Onde tantos
versos que plantei nunca viraram flor
E a porta do jardim, indefesa, continua entreaberta
Minha cabeça hospeda sonhos não compartilhados
Um madrigal no canto de azuis pássaros vespertinos
Mas a voz que
quis ouvir, se fez tão só de silêncio
Caminhei
tantos caminhos margeados de espinhos
As pessoas que
achei, não disfarçam tua ausência
Hoje ouço um
lamento remoto, sob o céu sem luar
Sei que é tua voz atônita, sombria, no ar de outono
Qual não ouvisse mais o vento que trazia os poemas
Que um dia foram
teus, mas ora voam outros ares
Sei que teu olhar perdido não pode ver a paisagem
Redescobri em meu peito um novo mar de palavras
Onde teu barco, partido, já não pode mais navegar
domingo, outubro 27
Letras de Outrora
Bem cedo talvez meia noite o poeta empunha o lápis como adaga
Derrama sua dor no papel, ferindo-lhe a carne estéril em grafite
Usa de vestígios de um alfabeto inventado e renomeia a ilusão
Busca esquivar-se de alguma obscurescência aguda da memória
Afinal qual de nós teria um
contador de sonhos atado no pulso
O ruído do cão roer uma cruz de madeira arranha meus ouvidos
Busco conforto, deito a cabeça em meu travesseiro de chumbo
Enterrado no pesadelo que não
amanhece e as portas não abrem
Repousa no ar um rumor espertinado, o cão geme e eu o maldigo
Se a morte é certa e indecifrável já guardei a moeda de
Caronte
Acordando de um sono profundo, deparo que o
outono chegou
Não deixo que se envenene a
esperança, um complô, um ataúde
Essas folhas vermelhas, por vezes as pérolas prateadas pelo céu
A hera emaranhada no salgueiro, os graciosos
lírios perfumados
Porém, essa nostalgia de desejo vestida do uniforme dos séculos
É o mito que o beija flor canta, acende
novo fogo, outra paixão
Permito que o astrolábio me guie nas idas e vindas às estrelas
A solidão é um engano, um tipo
de feitiço, um simples impulso
Antes de ser um nome
verdadeiro que se discerne de estar só
O poeta olha para si mesmo e reconhece que
venceu no escuro
Tiro o pó das velhas cartas no fundo da
gaveta desta dor eterna
Escondo-me entre as ruínas
dos antigos gestos, ora congelados
Escreverei uma canção orlada de flores violentas e da palavra sol
Que o delírio da noite que amanhece, ouve, mas não a entende
Uma palavra tão além das
letras de agora, verbo, terra e canto
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