The Writer Within the Wizard
Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
quarta-feira, julho 16
Herança
O tempo depois de todo
o tempo, por incontáveis eras
Saga antiga
Um poeta esculpe pela noite os domínios do seu perfil
Percorre os
salões além das casas sem portas da morte
Sobe e desce entre
remotas ruas empinadas do centro
Corvo rubro do amanhecer, azul intenso que vem do
sol
E ainda que seja só um homem, não há o que o
defina
Sua alma finalmente liberta dos grilhões para onde irá
Último cárcere entre as brumas, último amalgama gris
Anjo remisso, quais marcos deixará antes da sua cova
Olha a fuligem
sobre as telhas, onde o musgo
prolifera
Nas gotas das chuvas que escorrem entre suas gretas
A que servem o estrume, os vermes, plantas e animais
Será o coração tão-só um músculo, não a casa do amor
Todo lugar é
apenas mais um lugar, uma outra canção
A vida é uma
viagem, um permanente desatar de laços
Minúscula gota de sangue, diluída no escuro da noite
Mas agora é noite e nas noites há que se beber o vinho
Hora de esquecer das
cinzas e, enfim, curar as mágoas
Como se pudesse, do
nada, ungir cada uma das feridas
quinta-feira, julho 10
Heróis
Olho a colina com minha melancólica alma ensanguentada
Estarão por toda parte os que me queiram mal nesta vida
É este o meu destino, enfrentar
tantos
punhais à espreita
A vida é 0 eco da morte, a borboleta exposta num
alfinete
Heróis silentes e imaginários que
se
desfazem em pedaços
São feridas abertas num jogo de mortalidade sem sedução
Humilhados ou arrogantes, todos derramam sangue e suor
Nesse redemoinho sem esplendores que chamam de viver
Observo os fatos irônicos, fertilizados por essa realidade
O não equilíbrio de quem encalça com serenidade o vazio
Que se iludem a imaginar serem os encantadores de feras
Avatares sombrios despedaçados, negando a imortalidade
O silêncio da noite nega a existência de um amor
gratuito
A busca do prazer, mas se encontra apenas impropérios
A paisagem desvanecida na penumbra é o que nos oferece
Corações prisioneiros no êxtase de seus peitos em chamas
Numa manifestação fortuita de toda realidade imprevista
Onde o tempo impreciso de sombras, escapava galopante
Montando em comoção espontânea, o cavalo dos sonhos
segunda-feira, julho 7
Pretexto
Não preciso de vãos pretextos para viver sem limites
Inobstante que meu coração lamente a tua ausência
Que tua figura tenha se perdido na fumaça dos dias
Chego a entender o desamor que limita certa gente
E tudo isso me faz escrever versos ao cair
da tarde
Ouço ao longe um acordeom, o fole arfando de dor
Ouço o pássaro, sinto a
brisa, os perfumes do verão
Certa vez construí um lugar contigo
e éramos livres
Mas veio a tormenta, enlouquecida a
deixaste entrar
Depois houve o nunca e a autora se perdeu na
noite
Hoje teu corpo é naufrágio e não posso te encontrar
Lágrimas que escoam, banhando teus lábios
de neon
Os dias correm velozes como nas
corredeiras do rio
Benditos os aventureiros que fomos,
sobreviventes
Desbravamos o grande labirinto, sem olhar para trás
Semeamos as sementes para reinarem quando árvores
Fomos avisados que não ficaríamos muito no paraíso
Assim escrevi um quadro, pintei um
poema inovador
Depois será o silêncio, um vibrante e
sonoro silêncio
De quem, ainda vivo e pleno, caminha entre os mortos
Rumando a outras terras, na luz tênue de um abraço
sexta-feira, junho 27
Vaivém
Anos passados, eu a encontro ao acaso, ela parece
me sorrir
Decido, destarte,
por falar de coisas triviais, coisas
outras
Nada digo sobre
seu perfume, apesar desta noite enevoada
Uma sensação de umidade, a lua ocultada,
estrelas alheias
Não será conversa
sobre o passado, penso falar de futebol
Isso evitaria abraços e distrações. O que houve foi silêncio
Os ruídos
noturnos nos levam ao sofá, contudo o
ar gelado
Nos aproxima um tanto a mais que a prudência recomenda
Na chaleira a água vai além do morno, ferve a fazer o café
Não, não
pergunte, nem me diga que sente pelo
acontecido
Faço uma pausa, escolho outra música para tocar, creio eu
O relógio tiquetaqueia por minutos que se somam em horas
O tempo não se distribui na medida de nossas necessidades
Sabemos o que isso pode fazer-nos (e nem é preciso
dizer)
Não importam porquês, a roda do tempo não retorna atrás
Ela deixa sua blusa semiaberta, vê-se a volúpia em sua boca
Nas respostas do que não se perguntou e não se quer saber
Acaso tu te atreves? Atrevo eu, solto o cordão do sapato
Ponho descalços
os pés, faço-os tocarem de leve nos seus
Curiosamente ela murmura uma canção antiga, eu
conheço
Porque o fazes assim, fica tão difícil não desnudá-la, penso
Carreguei sua foto na carteira por mais tempo que queria
Quando me dou conta já esfregas
aquela tatuagem em mim
Ela se adere ao meu peito, sobre todas as cicatrizes de ti
Sinto o calor de teus seios hígidos me roçarem em vaivém
Já não há mais o que fazer, outra vez restamos
apenas um
Entre as cobertas, dizes que não queres falar sobre nada
Então que queres que eu faça se
tu me olhas com paixão
Além de te
tomar em mim, sem ponderar as consequências
Imagino que tu fizeste de caso pensado, mas nem importa
Lá fora a neblina já deu lugar à chuva, não pretendo
sair
segunda-feira, junho 23
A palavra proibida
Perdemos a noção do tempoA última lâmpada já não luze maisAs sombras são em multidõesSe achas que nos calou a vozÉ porque te parecemos longeViva está a palavra que restaE que ninguém se iludaOs que se acham vitoriososO murmúrio vai elevando o tomDobra o silêncio a cada esquinaE segue de braço em braçoO rosto que eles nunca viramGatos pardos na noite, afinalO que é proibido, não mais seráDe resto, sobreviveremosE a palavra jamais proibida
Ode a Van Gogh
Meu coração endurecido guarda lembrança de voar
Como se isso pudesse me guiar ao fim de um outono
Prevenir-me
dessas belezas vazias, não por faltar
a fé
Mas pela ausência de ventos que marquem a direção
Para contornar as melancolias e memórias provisórias
Qual o talismã que me proteja da traição dos infiéis
Ultrapassar os muros nessa fuga das dobras dos dias
Partir em meio
à insônia de cálidos tempos tropicais
Na inevitável cegueira de todo poeta diante do amor
Assim como sua inútil e imortal esperança no melhor
Ser o cão dócil, de alma gentil ferido por ser franco
Quero semear flores pela orla desta estrada agreste
Onde pousarão
as mariposas, cientes de evitar a luz
Caminharão à
minha sombra e ouvirei seus lamentos
A escuridão em nossa face, nosso medo tão antigo
Às vezes imagino, em verdade, não existir um mundo
Apenas seguimos numa batalha interminável pela luz
Ou talvez bailarinos, que desnudos, buscam a manhã
No sonho, obstinados versos brotam em minha mão
Como os girassóis de Vincent, na primeira luz do sol
Dispo os farrapos, visto
o poema novo ali na esquina
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