sexta-feira, abril 12

Queda

 

A praia abraçava teus dourados cabelos banhados do sol

As aves marinhas cantavam teu nome bailando pelos céus

E a brisa cálida espalhava um bálsamo de verão pela tarde

O mar que mansamente beijava a areia, iniciava o ondular

Espalhando o branco da espuma até onde se pode avistar

Das falésias vimos o crepúsculo despedir em raios rubros

Lembro o doce brilho intangível de teus olhos luminosos

Quais faróis salvando da velha dor selvagem e angustiosa

E no teu seio fui aprender a sorrir e desdenhar da morte

Mas o riso certo dia calou-se e vieram trevas impetuosas

E a melancolia fria qual um lamento tomou conta de mim

Um abismo onde antes fora o brando horizonte azulado

Torna a clara paisagem limitada ao infortúnio misterioso

Da imagem de teu corpo, triste, e as espumas em sangue

De suas asas imóveis, conspirando a um transe pungente

Cena e forma incipiente debaixo de meus olhos atônitos

Numa múltipla certeza de uma queda e de um final veloz

De um único sopro e o vento a sacudir tuas leves vestes

E o encontro com as duras rochas foi um só pensamento

Uma dor instantaneamente agigantada num golpe de luz

 

terça-feira, março 12

Última Onda

Tenho um grito tresloucado dentro de mim e não me ouves

E a negra tinta que lentamente escorre da pena pelo papel

Traça ondas de letras qual linhas que o mar traça na areia

Despertei e vi um mundo desigual a quando me pertencias

Teus olhos desobedientes a me fitar como dois horizontes

Tua silhueta elegante a fazer par a um mar só de teu sabor

O aroma dos jasmins das noites de verão qual teu perfume

O brilho das estrelas se acanhava ao brilhar do teu sorriso

Passou um oceano inteiro desses dias e só escrevo porque

Uma tarde de março sem poesia é tal um amor sem amante

O vento veio soprar e os cinzas da noite começaram a cair

É solidão outra vez. O coração caminha sem saber onde ir

A música apenas silenciou, fez eternos contos se diluírem

Partistes sozinha e levastes os projetos d’um novo futuro

Levastes as vãs promessas feitas, mas deixastes os sonhos

A última onda na areia apagou as marcas das tuas pisadas

E não sei onde fostes parar, apenas sei que não chegastes

Onde te esperava o espelho da vida, isso jamais te refletiu

E a névoa encobriu tua imagem que sequer acenou adeus

Nossa história é qual árvore negra que fruto algum gerou