The Writer Within the Wizard
Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
segunda-feira, setembro 1
segunda-feira, agosto 25
Tão só poeta
Acordo
sentindo-me tão distante e olho-me por dentro
A palavra brota em mim, sem raízes, lágrimas ou gritos
Antes, um poema intocado em mim mesmo, escondido
Um mundo terno que pensei criar à minha semelhança
Renascer, evoluir sem reclamos qual fruto do
espírito
Sem usar das palavras para ferir a quem quer
que seja
Apesar disso, nunca calar algo sutil,
doa a quem doer
Papoulas sempre fiéis apontam rumos em meus sonhos
Homem ou pássaro sempre fui necessitado de carícias
Num mundo sempre feito com sangue, suor e lágrimas
Amei como se devia amar a quem nem sempre mereceria
E de qualquer
forma nunca retribuído com proporção
Neste meu reinaugurado mundo não haverá
melindres
Tudo impecável, uma vida urgente, sem algum ressabio
E um céu estrito onde todos os pássaros se sustentam
Não o eterno fora de mim, um universo desencontrado
Dentro de mim
um exército de mim armado de sentido
Nunca mais um desterrado, ajoelhado ou rosto oculto
Contudo,
consciente de que o poeta sempre andará só
Mas, plúrimo com
versos que tocam pessoas e gerânios
Segurar estrelas com as mãos, dizer não a antigas faces
Um arcanjo e a caneta, não para ser herói, tão só poeta
sexta-feira, agosto 22
Solidão a Dois
Foi quase uma despedida comum, poderia ser natural
Contudo era
para sempre, a última vez que ela sairia
Eu nem quis ir
à porta para ter certeza que ela se ia
Passou por mim, como a desviar os olhos lacrimosos
Fingia nos lábios um sorriso, não fosse o leve tremor
Levava neles o
sabor de meus beijos a noite passada
Levava mais partes de mim que eu poderia enumerar
Fragmentos de meu
ser, no íntimo, nas coxas e seios
Acreditava levar, qual de hábito, as todas respostas
Contudo, levaria
mesmo as perguntas irrespondidas
Deixando um
rastro de perfume a invadir-me a alma
Fingíamos que podia ser singelo, sem alguma emoção
Deixou signos de si mesma, tatuados em toda parte
Apartados do oblívio, quando cavalgava
sobre mim
Sussurrando
coisas irrepetíveis, inundada de prazer
Eu esvaziei, deliberadamente,
todas as suas gavetas
Como se assim
pudesse despi-la mais uma última vez
Ter sua nudez molhada de novo por toda minha pele
Deixaria ela para trás, todaa angústia e dúvidas vãs?
Mas não, o moto da partida residia na solidão a dois
Eu sempre estive presente, ela nunca quis enxergar
A porta do taxi fechou-se, deixei um soluço escapar
Livro Azul
Eu, antes era tal qual fosse alguma
soma finitaUm rio de parcas margens, fluindo sem destinoNo sombrio interior da noite quando te conheciPor épocas reinventadas, em tempos imemoriaisHavia em mim uma existência de milhares de
sóisNas ruas, o alaranjado tom nas folhas de bordo Não um tempo linear, vivo
no imaginário popularOnde se empilham horas em
dias, meses em anosMas o tempo desespero de toda a tua
ausênciaE tu, qual que estivesses num universo
paraleloDiametral a minhas aspirações, a minha angústiaSubsistias alheia a tudo,
respirando a minha luz As partículas da margem
delirante de meu caosFizeram sufocar o anseio de tocar tua
armaduraEis que asas emergiram-me às costas, então voeiConsumi o fogo, toquei o futuro, me fiz invisívelSem pretender ser rude,
abdiquei de teus beijosPara cercar o peito com um muro de neurônios Não és mais meu universo, tampouco um oceanoMas gotas que escapam se tento agarrar a chuvaMas gotas que escapam se tento agarrar a chuvaTornei-me a espiral fugitiva,
não te gravito mais Mesmo que conserve a memória
de tuas pupilasDescobri que a dor, ora tem limites
fora de mimE assim escrevi este poema no livro azul da vida
Tornei-me a espiral fugitiva,
não te gravito mais
terça-feira, agosto 19
Xituculumucumba
Minha poesia anda nua, pelas paredes pichadas dos guetos
E a polícia que, qual a noite invade o dia, invade
as casas
Minha poesia anda crua
nas ruas invarridas das metrópoles
De asfalto, de metal e concreto, sem árvores, mas gasolina
Minha poesia que é tão tua, caminhando ébria à beira-mar
Onde a onda que murmureja, beija as areias em seu ir e vir
Minha poesia sob a lua, mira o
soldado que segura o fuzil
Com o olhar atento, pelas emboscadas sofridas nesta vida
Minha poesia não se amua, diante dos revezes cotidianos
Ergue a guarda, olhos nos olhos e se vai
na estrada afora
Minha poesia ainda flutua, esteira de luz pela imensidão
No gesto sábio do pescador que, lento, atira a
rede ao mar
Minha poesia não recua, antes é o grito do recém-nascido
Ou o tropel das manadas, d’algum canto triste
na senzala
Minha poesia se situa, dentro do peito, atrás do coração
No frio da floresta escura, o trêmulo som do lobo a uivar
Minha poesia se insinua no olhar esquivo
da garota ruiva
De sardas, na loja da esquina, rosas-de-gueldres a bordar
Minha poesia se perpetua em folhas de árvores no pomar
Brilhando ao rosear das mangas e avermelhar das maças
Minha poesia anda nua, despida do silêncio e incansável
Minha poesia anda nua, despida do silêncio e incansável
Graciosa e esplêndida, na incontida insistência de viver
quinta-feira, agosto 7
Bom dia
O dia nasce indefesoOlvidando as cicatrizesE os instantes oblíquosPara raiarem vocábulosDessas noites tão friasEm vales de incertezaDa dimensão do realNo sonho remanescemPencas de horizontesE esse silêncio da vozNão faz calar na almaUm desfile de palavrasSequiosas de voaremSob o sol que as saúdaEntre flores no quintal
terça-feira, agosto 5
Poema mulher
As partículas invariáveis de traço dos meus poemas
O motivo é sempre a mulher e o seu cruzar
de pernas
Na intensidade que muda, por
conta de quais ângulos
E da fantasia de quais
portais se abrem aos sentidos
A se espalhar como destroços de antigo naufrágio
Enquanto há uma pretensa penumbra a limitar o céu
As paredes da sala se diluem entre olhares
brilhantes
O fato gerador das minhas
mais eruditas expressões
Diametralmente opostas ao
reino de certezas líricas
A seda nunca fez sentido até que eu senti sua pele
A mulher na horizontal invade as minhas estruturas
E me fazer conjugar os meus verbos mais irregulares
Livre de funções sintáticas,
sou todo concordância
O que são letras frias comparadas
à beleza feminina
Ou as infinitas estrelas do céu diante de sua nudez
Perco os substantivos, os gêneros e mesmo pronomes
Exceto ‘minha’ que faço por chamá-la noite adentro
Atravesso as fronteiras do querer, predicado verbal
Sua boca rubra e tão suave textura são a expressão
Entre artigos e numerais, é o meu refúgio do tempo
Chamam-te mulher, mas és o berço de toda a poesia
Monólogo da plenitude mais que perfeita da palavra
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