The Writer Within the Wizard
Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
sexta-feira, junho 27
segunda-feira, junho 23
A palavra proibida
Perdemos a noção do tempoA última lâmpada já não luze maisAs sombras são em multidõesSe achas que nos calou a vozÉ porque te parecemos longeViva está a palavra que restaE que ninguém se iludaOs que se acham vitoriososO murmúrio vai elevando o tomDobra o silêncio a cada esquinaE segue de braço em braçoO rosto que eles nunca viramGatos pardos na noite, afinalO que é proibido, não mais seráDe resto, sobreviveremosE a palavra jamais proibida
Ode a Van Gogh
Meu coração endurecido guarda lembrança de voar
Como se isso pudesse me guiar ao fim de um outono
Prevenir-me
dessas belezas vazias, não por faltar
a fé
Mas pela ausência de ventos que marquem a direção
Para contornar as melancolias e memórias provisórias
Qual o talismã que me proteja da traição dos infiéis
Ultrapassar os muros nessa fuga das dobras dos dias
Partir em meio
à insônia de cálidos tempos tropicais
Na inevitável cegueira de todo poeta diante do amor
Assim como sua inútil e imortal esperança no melhor
Ser o cão dócil, de alma gentil ferido por ser franco
Quero semear flores pela orla desta estrada agreste
Onde pousarão
as mariposas, cientes de evitar a luz
Caminharão à
minha sombra e ouvirei seus lamentos
A escuridão em nossa face, nosso medo tão antigo
Às vezes imagino, em verdade, não existir um mundo
Apenas seguimos numa batalha interminável pela luz
Ou talvez bailarinos, que desnudos, buscam a manhã
No sonho, obstinados versos brotam em minha mão
Como os girassóis de Vincent, na primeira luz do sol
Dispo os farrapos, visto
o poema novo ali na esquina
segunda-feira, junho 16
Fevereiro
Então, os
olhos que fizeram morada de tantas lágrimas
Calaram-se qual a tempestade que
se despiu dos ventos
Como o
pássaro que,
engaiolado, abdicou de seu canto
O tempo
consumado se
saciou na quietude dos minutos
E assim estes olhos passaram
muito tempo adormecidos
Numa tarde
de outono, era quase noitinha e ela chegou
No meu
peito ferido, cicatrizes vibram com sua chegada
Vestia
branco,
como a verdade que brilha nas clareiras
Abriu a
porta para o
pássaro voar e ele não foi embora
Antes, lhe
pousou no
ombro e afinal ali pôde descansar
Um silêncio de céu, mar e luz,
um silêncio transluzente
Sob essa luz
o pássaro segredou
cantos no ouvido dela
E com a
ponta dos dedos, esquadrinhou a sua geografia
Sobre suas asas de almíscar, brilhou
uma luz lápis-lazúli
As criaturas da terra veem os
ponteiros mirarem o céu
Meio-dia é consumado, chegou a hora de colher frutos
O sol
cintila sobre o chão crestado, ainda é tão deserto
E a luz
dispersa as sombras reunidas à noite, sob a cama
De um sono
fustigado e sem
sonhos, é preciso acordar
Dar-se conta
de que
habitava um continente de cegos
E a mentira
nutria os
espelhos desse mundo sem portas
Empertigo-me
na cadeira, a pulsação
tranquila e ritmada
Confesso que sei, a
morte pode vir no azul do horizonte
Viro a
página, risco um poema, afinal, já não é fevereiro
terça-feira, junho 3
Contrapontos
A poesia por vezes é o triste oboé, outras o jovial trompete
O poema
exercita as sombras nesses sopros, no escuro véu
Tão seco e
plúmbeo, avaro de doçuras, em antigos lençóis
Será a morte laboriosa silenciosa num amargo céu de
junho
O verso não basta, amar é pouco, nesse galope desvairado
Somos uma
densa fábrica de tristezas nesse outono febril
E tudo que
resta é desterro, bordado de parcas memórias
Contudo se bem
olharmos o moinho da vida, veremos vida
Qual se não morrêssemos amanhã, não morreríamos jamais
Além dos trovões que nos assaltam nas noites de pesadelo
Se provermos
os ouvidos abertos virá um som de concerto
Com seus timbres que fazem vibrar os alicerces do silêncio
Mil lâmpadas se acenderão, tramando entre velhos
retratos
Pela volta da luz como nunca, em busca de claras memórias
Menos ácidas, entre tantas, nas
gavetas azuis do cotidiano
Enfim o poema
eclodirá, renascido no amor reencontrado
Nunca mais
seremos os mesmos a brilhar na luz do destino
domingo, junho 1
Sabedoria
A sabedoria
outonal derrubou as últimas folhas rubras
Restou a saudade dos perfumes dos lilases dos anseios
De bocas céticas,
de tantas palavras de veludo e cetim
Dos anos passados são tantos os amigos que já partiram
Da nossa tão distante antiga infância restaram suspiros
De crianças que brincavam ao redor dos pés de frutas
Ou de cada letra mal soletrada na palavra elucubração
O sussurro musical daquele rock que meu pai proibira
A relva já seca
resplandecia aos reflexos do sol poente
Foi então que descobri, ao acaso, o despertar do amor
Foi então que descobri, ao acaso, a morte inesgotável
E mesmo as cobras que inadvertidamente acariciamos
O vinho e o vento guardam as lembranças adormecidas
Meu olhar errante aos campos de cogumelos e malvas
O júbilo do saxofone a me sorrir pela estrada de
seixos
Muito além da encruzilhada onde enfim nos calaremos
Terá o poema e
sua foice dourada ceifando caprichos
Ainda que o inverno venha, e virá, inexorável e severo
Nos jardins de lua é hora de sonhar sem ressentimento
Restou a saudade dos perfumes dos lilases dos anseios
Dos anos passados são tantos os amigos que já partiram
De crianças que brincavam ao redor dos pés de frutas
Ou de cada letra mal soletrada na palavra elucubração
O sussurro musical daquele rock que meu pai proibira
Foi então que descobri, ao acaso, o despertar do amor
E mesmo as cobras que inadvertidamente acariciamos
O vinho e o vento guardam as lembranças adormecidas
Muito além da encruzilhada onde enfim nos calaremos
Ainda que o inverno venha, e virá, inexorável e severo
Desterro
Esse meu desterro permeável, semi-sedentário e surreal
Nele, as palavras
se misturam aos lugares que nunca fui
Onde ocorrem as circunstâncias daquilo que nunca vivi
Mas que sinto na minha carne, qual uma saudade porosa
A arte tem
essa aura de resgatar memórias inexplicadas
Eu, o romântico concreto, incabido em notas didáticas
Vejo que o dia, entre o céu e o almoço, lambe o tempo
A boca vivente, dois ouvidos em meio ao silêncio abissal
Que deseja,
contudo, derruir os frios muros à sua volta
Expor, atrás das máscaras, as inocentes faces de mentir
Estendo as asas imprescindíveis para não deixar rastros
Apenas tanger um torpor imaginário, qual a névoa crua
Lentamente faróis incendiam os rostos dos automóveis
Vejo-os num suspiro p’las janelas abertas pra Via-Láctea
É o anoitecer que nos lança um olhar
inteligente a mais
O grilo que, sobre o ombro direito, canta suas crônicas
O dia enfim dissipa e restam homens livres da aparência
Resplandece o
céu detrás de todas as máscaras caídas
O que se houve compreendido já não existe neste chão
Um pássaro não confunde o vento em sua nua verdade
Onde ocorrem as circunstâncias daquilo que nunca vivi
Mas que sinto na minha carne, qual uma saudade porosa
Eu, o romântico concreto, incabido em notas didáticas
Vejo que o dia, entre o céu e o almoço, lambe o tempo
A boca vivente, dois ouvidos em meio ao silêncio abissal
Estendo as asas imprescindíveis para não deixar rastros
O que se houve compreendido já não existe neste chão
Um pássaro não confunde o vento em sua nua verdade
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