sexta-feira, dezembro 12

Vertical

Não diga que escrevo um poema presumidamente vertical
Que não exibo orações devotas, de bondade e franqueza
Pueril engano de quem acredita que pode decodificá-los
Nada é tão só o que parece e oculta razões inquietantes
Aprendi a falar de dores, decepções e inocência perdida
Escrevo estrofes isentas de epigramas, plenas de sombras
A metáfora de quem venceu a morte e outros fantasmas
Os protagonistas dos medos cotidianos de tantos outros
São palavras graníticas, nascidas de complexas tormentas
Porém ainda falo de amor, não de avara lascívia da carne
Falo dos esplendores dos olhares, de vertigens eternizadas
Aquilo cuja aclaração, conduz a incertezas ainda maiores
O poema diz dos encontros tão casuais quão improváveis
Pelas inóspitas voltas do desejo, pelos itinerários da noite
Não escrevo sobre o trivial, mas o desvario insolente e nu
A sedução que só se consuma com os perfumes de rosas
Que etéreos e fugazes, deixam para trás apenas espinhos
O crepúsculo se acerca e povoa o dia de signos e sonhos
Nuvens sonambulas desfilam diante da luz pálida do luar
O que seria do poeta sem as cicatrizes de beijos perdidos
 


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