Vertical
Não diga que
escrevo um poema presumidamente vertical
Que não exibo orações
devotas, de bondade e franqueza
Pueril engano de quem acredita que pode decodificá-los
Nada é tão só o que parece e oculta razões inquietantes
Aprendi a falar de dores, decepções e inocência perdida
Escrevo estrofes
isentas de epigramas, plenas de sombras
A metáfora de quem venceu a morte e outros fantasmas
Os protagonistas dos medos cotidianos de
tantos outros
São palavras
graníticas, nascidas de complexas
tormentas
Porém ainda falo de amor, não de avara lascívia da carne
Falo dos esplendores dos olhares, de vertigens eternizadas
Aquilo cuja aclaração, conduz a incertezas ainda maiores
O poema diz dos encontros tão casuais quão improváveis
Pelas
inóspitas voltas do desejo, pelos itinerários da noite
Não escrevo
sobre o trivial, mas o desvario insolente e nu
A sedução que só se consuma com os
perfumes de rosas
Que etéreos e fugazes, deixam para trás apenas espinhos
O crepúsculo se acerca e povoa o dia de signos e sonhos
Nuvens sonambulas desfilam diante da luz pálida do luar
O que seria do
poeta sem as cicatrizes de beijos perdidos
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