quarta-feira, abril 9

Chão de Barro

Há dentro deste corpo um passageiro des’que nasci
Desd’aquela velha casa de tijolos, de chão de barro
Ali debaixo do teto nas travessas de madeira nobre
Sopravam vozes do vento, me ensinando a alucinação
De caminhar sempre em frente por todos caminhos
 
Dei-me conta do passageiro, sentado na beira do rio
Um menino já imaginando que haveria do outro lado
E o menino ganhou as distâncias, visitou um mundo
Dentro e fora dos sonhos perfumados como jasmins
E tão brilhantes como os olhos da donzela na janela
 
Juntos, descobrimos o amor numa tarde de outono
Amar me ensinou o sentimento que ilumina a noite
Mas, ensinou também que o céu é a ilusão em azul
Fui assim descobrir o amargo da lágrima na distância
O amor é pássaro que recolheu as asas no passado
 
Que olha o que pode, mas não revela porque pensa
No que restou da paisagem pelos campos de trigais
Assim nasceu meu escrito, cúmplice dessa jornada
Na música tocada nas tardes, ao ranger da carroça
Velhas e lentas rodas, a circular tal qual o destino
 
E o vinho tinto que tinge o véu de veludo estrelado
Que faz escolher o caminho, não se sabe o porquê
Também faz o passado continuar sublime e intocado
Meu passageiro, o estranho em mim, sou eu mesmo
A misturar pedaços da vida secreta com a de poeta

 


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