quarta-feira, maio 21

Lírios da Noite

 

De tanto te amar, compus este cântico, sucinta esperança
Neste final de maio, doce como lírios que brotem na noite
Onde brilham as estrelas, tão peculiares de longos outonos
Sei que virás, sob essa luz lilás, tão breve quanto perfumes
Trazendo o olhar, qual astrolábio, a mostrar-me o caminho
 
Se já fui nau à deriva, ora singro presto nas águas sombrias
Meu sextante, flor de macieira, tua face rósea e delicada
Cheira a saudade e ao hálito da brisa matinal ao teu lado
O vento que me ensinaste, enfuna as velas e navego lesto
Chegarei ao primeiro raio de sol trespassando pelas folhas
 
Vesti-me com a couraça da poesia, minha lança de palavras
Trouxe a ti as vozes que ouvi cantar pela planura deserta
Assim me transformei em sonhador da fonte de luz e vida
Quisera cantar no alto das montanhas, seguir os rouxinóis
Ser homem corajoso, descobrir um paraíso simples e claro
 
Esta vida é flama errante, penso que o ontem foi-se rápido
E quão mais afasta, tão maior é a saudade que sinto de ti
Por vezes imagino que ninguém me escuta, só tu me ouves
Se te digo para brincarmos como crianças entre as flores
E esquecermos todo o mal que a vida nos ensinou a temer
 
Na franqueza do coração junto ao rumor cálido do regato
Sob negra abóboda há o poema e uma justa causa a morrer
Qual lírios da noite, o consolo é sentir, onde vá, teu aroma
Vou recitar este poema, acompanhado do coro dos ventos
E onde houve silêncio o país inteiro há de ouvir minha voz

 

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