domingo, maio 11

Obstinado

 
Um pássaro esquivo cruza os ares gris do crepúsculo
Ouço seu canto que vem sul, ave fugitiva do inverno
Busca o sol d’outras latitudes, que regresse sua luz
Onde habitaria, hipotética calidez, a pulsar na manhã
 
A algidez deste vasto outono que, precário, perdura
Chega a tormenta, o chão crestado vibra em segredo
Oculto do inimigo, versos íntimos quais favos de mel
Que guardei para ti, sob a amena sombra do choupo
 
Entre o silêncio cotidiano, invento a palavra mais crua
Sortilégios do destino, nas entrelinhas, a verdade nua
De raízes profundas, oculta sob a poeira dos séculos
Dissidente da perversa desmemória clama ser e estar
 
Os pássaros já não gorjeiam por esta tão imensa terra
Emudecidos de pavor e espanto, queimou o arvoredo
As mãos são palma e carícia ou serão punho cerrado
Se o poema fere, ao certo não sangra o peito ferido
 
Obstinadamente elevo a voz em cada pedaço de mim
Ilumina-se meu pensamento arde, crepita, se inflama

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