quinta-feira, julho 24

Anoiteceu

Sob as sombras dos tempos, a imagem mansa do mar
Devolve-me todas as lembranças que guardei de ti
De tua pele desnuda rescendendo ao cheiro de sal
Dos teus olhos assombrados dos tempos ancestrais
Daqui tão longes, quando a alvorada afasta a noite
No chuvisco noturno débil e esquecido da história
O aroma dos lavandais recém cortados invade o ar
No perfume brilhante recordo-te trêmula de prazer
E o teu torso, opulento e macio, a respirar exausto
Num amor que juramos que jamais poderia terminar
Promessa ilusória, ceifada pela realidade da morte
Hoje é somente o mito ausente, por trás da névoa
Ah, como me entreguei inteiro a essas recordações
Quedei-me indefeso perante a dor de toda distância
Os ruídos cotidianos, a cidade irresgatável, estéril
Cicatriz corroída sob o linho que cobre os altares
Vejo-te na minha alucinação à porta da nossa casa
Vejo o sangue vertido no caminho, sobre o asfalto
Ao meio dia era sol, à uma, de dor o céu anoiteceu
À noite espero em silêncio, debalde, o teu retorno

 

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