Herança
O tempo depois de todo
o tempo, por incontáveis eras
Dos
séculos, das migrações, do vozerio à beira da água
Ainda
me quedo à tua espera, coberto do pó da estrada
Tal marca indelével, uma
cicatriz de vidas e de mortes
Velha procissão das
gentes em seus vestidos coloridos
Eis-me aqui, depois de
tudo, transmutado em essência
O sol nasce e se põe sem descanso, de tempos remotos
Crestando
o calcário, fendendo suas alvas porosidades
Sigo por teus
labirintos exercitando a minha pequenez
Na
brevidade de mais uma vida, ansiando deixar marcas
Nas paredes, nos pátios,
nos mais secretos cantos, a ti
Para
que me vejas, na minha transparência quase aérea
Chego
a este lugar, onde te espero desde todo o tempo
Nos
territórios de meu secreto reino, local de mistérios
Onde
emanam intocados, todos nossos primevos sonhos
Mas que percorro
solitário, aguardando a tua chegada
A fim de destecer as teias dos que nos querem afastar
E
por isso te chamo, sob a luz do sol que devora os dias
Teu
nome foi escrito no sangue a me percorrer as veias
No
quadro alegre da memória, ainda brincamos de viver
Entre
os muros que limitam mais uma curta existência
Na
vocação da espera o que meu peito sente incansável
Os
olhos negam sem indulgência à caprichosa esperança
Nesta
vigília que sei não virás e a dor é a única herança
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