quinta-feira, outubro 30

Mergulho

 

Num tempo antigo vivi o desalento qual estrela cadente
Se agora não tenho mais o mesmo ímpeto da juventude
Meu coração é uma supernova a devorar a madrugada
A minh’alma desvirginada já não crê em verdades cegas
Meus olhos fitam os felinos caminhando pelos borques
Vejo a simetria perfeita das pequenas gotas de lágrimas
Os risos já não me comovem o coração, qual um dia foi
O tempo corre como um rio, a esgueirar entre as pedras
Ainda resta dentro de mim, uma substância de sombras
Que não se dissipa, se evapora para logo se fazer chuva
A noite, esse abismo de silêncio, entre gestos elétricos
Foi assim que aprendi em braile a ortografia dos corpos
E também a cultuar os beijos pela linguagem dos olhares
O comovente rito do tato que produz olhares famintos
O que importa seria descobrir qual é o momento exato
Para se dizer sim ou dizer não para comover o coração
Entro na noite qual o mergulhador entra no mar revolto
E uma vez submerso, sonho poder acabar com a solidão

 

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