Trabalho palavras temperando com
o brilho de outros sóis
Trato-as com
o zelo de quem acalenta o filho único ao colo
Incinero
medos como só a quem passou o tempo se permite
Na fronte
lavada de noturnos suores, obra de uma febre vã
Diante da
retina passa doída a memória deste dia de mortos
Vejo a aurora dançando em meio ao
vento cálido da manhã
Meus
fantasmas desfilam num tapete de ausências amaras
Eis o jogo da
vida em cenas que zombam no espelho diário
Faço da angústia utensílio
doméstico e da esperança vinho
É o ofício do poeta talhar
palavras com cor e gosto de vida
Onde o poema é o que fala da vida
entre os ventos da alma
Ou que, num véu de sombra, olvida
do amor e diz da morte
Tal como escultor que lixa e
plaina o mármore sob o cinzel
O que era nu e silente ora indica
a um horizonte imaginário
Sigo minha
luta entre moinhos, na dor sozinha de cada dia
É preciso transmutar a cor do
amor, dia a dia na lembrança
Se 0 caminho que se escolhe é só
um caminho sem coração
É o moinho sem o vento, o espelho
cujo reflexo se ausentou
Não basta desejo, deve haver o compromisso na realização
Não basta desejo, deve haver o compromisso na realização
A estrada e o arame farpado vivem
perto, mas não se amam.
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