Se escrever é fazer mágica, sou um mago; se for transformar, sou alquimista; se for dominar mistérios, então sou bruxo. Vim transmutar sentimentos em palavras e vice-versa. Os poemas falam de imagens, sentimentos e sonhos. Tudo se passa na vida real ou na surreal. Ao lê-los tenha atenção ao que está oculto nas entrelinhas. Deixe que os versos te levem onde o vento quiser levar. A musa de meus poemas é a vida. Estejam atentos, pois as palavras são metade de quem escreve e metade de quem lê.
segunda-feira, março 31
terça-feira, março 25
Camafeu
São seis e meia, final de expediente normal no
centro da cidade
Os transeuntes seguem anônimos na usual pressa sem observar
Uma cena de filme mudo que, sem
legendas, não ilustra seu final
Sei que trazes
teu rosto perfeitamente maquiado, dia ou noite
Nunca foste pedir obséquios a ninguém e não se vê interesseira
Será que eles estranhariam se, à tarde, despencasses
do 30º andar
No chão, espalhados sua carteira, duas fotos sem
dedicatória
Causarias mais impacto com tua nudez, que no impacto ao chão
A vida é isso
amor, uma queda, um agarrar-se no vazio sem
voar
Traçamos paralelas buscando respostas que, muitas, nunca vêm
O vento, nada além de vento, faz justiça a quem não sabe amar
Vivemos um tempo impreciso, que
imaginamos que seja infinito
Essa
subjetividade não conduz a razão à plenitude do abstrato
Cada dia é uma peça do enigma, um perplexo camafeu do saber
O destino pode estar, ouça-me, ao dobrar da primeira
esquina
O que te falo
é para que não se dissipe o teu olhar
inutilmente
Para carregar
junto ao peito todas lembranças e todos olvidos
Assim não terás nos bolsos, algo pelo
que implorares por perdão
Pois, um belo
dia poderemos despertar em sobressalto, bem no
meio da noite, alma inundada de histórias dançando sozinhos
segunda-feira, março 24
Suas palavras
As palavras que diziaEram qual pérolasMaiores que seu decoteOu que a equaçãoDe seus olhosE seu sorrisoBulindo meu peitoMinhas pernas trêmulasSob seu pesoEm seu vai e vemDependuradaNo meu pescoçoAmável e violentaNa medida certaMe fazia amorDebaixo da chuva
Trem Azul
As palavras torturantes, partidas em sílabas, instam sair
Para se deitarem
no papel, seu branco leito que as almeja
As ideias se amontoam como insetos no ventre da noite
Velhos versos qual casas mutiladas na sombra dos olmos
Cruzar portas abertas, dar-lhes as costas e seguir adiante
Então, sentar-se
qual o cão que aguarda o dono ausente
E desse olhar
ao horizonte compreender, por fim, a vida
Os sonhos postergados na memória qual velha fotografia
Clamam,
escandalosamente, a retomada de seu caminho
Fomos amantes solitários dispersos por atalhos na cidade
Uma aventura iniciada no abraço até as
bocas de volúpia
Na gaveta da
aparador, cartas que foram a raiz de tudo
Sementes
inquietas de papel que inventaram este poeta
Sonhos de
tinta, a lembrança que viestes com o outono
E
compartilhamos a mesa, os gestos e também angústias
Dia após dia, da varanda assistíamos o balé das nuvens
Mas o destino trouxe o chamado de um lugar distante
Na penumbra dos dias que anunciaram a
minha partida
Choravas como chora o mar nas madrugadas à beira-mar
Da janela, via-se o trem azul pronto para última viagem
Então cruzei um abismo feito de silêncio, apagaste a luz
Restou uma parda silhueta do local onde fui mais feliz
Afeiçoei-me à dor, almejo que já ligues a luz sem chorar
quarta-feira, março 19
Segunda-Feira
Sem coro e sem
plateias, lá vai o poeta com seu chapéu
Antes que
chegue abril, sorve as últimas luzes pelo céu
Caminha sem
ansiedade e admirando a beleza do jardim
De flores desnudas abstraídas que o outono já começou
As quais lhe enfeitam a memória. Não é como biografia
Só breves trechos, tirados a bisturi, de velhas histórias
Foi cego aos que o julgaram, pelos paraísos onde passou
Assim se manteve livre das teias insidiosas da demência
Vitimado da ilusão – não importa – pois se permitiu crer
Buscando um
coração onde vira um ondulante quadril
E o rubro silêncio
brotou dos seus lábios como sangue
Nessa e em muitas
outras vezes por verões abrasantes
Só encontrou foi flores plásticas, beijos feitos de látex
Amores cibernéticos, nada para admirar ou a recordar
O luar se ergue detrás da parede, as putas enfileiradas
Esperam que a noite lhes seja tão generosa quão gentil
Que lhes protejam da tirania das chuvas e dos ladrões
O poeta
caminha na calçada alheio aos chamamentos
Criando versos de palavras que parecem indecifráveis
Um concerto de hendecassílabos lhe ilumina o rosto
Que fariam Castilho revolver-se de tanta indisciplina
A liberdade montada a cavalo, em plena segunda-feira
terça-feira, março 18
Que faço?
O que faço
agora se chamo teu nome e me reponde o silêncio
Se todas
histórias que contam tem os vestígios de teu sangue
Se me restam apenas solilóquios onde tu te aninhas sem pudor
Entre os
sulcos de antigas cicatrizes que ameaçam romper-se
Eis que ocupas minha pele em tuas bandeiras de alento à dor
O que faço se a brisa da tarde deita-se nas montanhas do sul
Se meus lábios
desejosos buscam o doce calor rubro dos teus
Se as roupas
do varal, ao ritmo do vento, exalam teu perfume
Qual fantasmas ávidos a renascer no terreno fértil do desejo
Que semeaste no meu peito onde
ocupas qual senhora de mim
Os pássaros agitam suas asas no
jardim, é hora de retomar voo
Buscar um novo horizonte onde o sol jamais deite além do mar
Vou voltar ao
meu torrão no caminho traçado com meu nome
Onde escrevias
te amo com o vapor da boca na janela da sala
Se ao menos um sinal me desses, sei lá, nascer
de novo os lírios
Dos quais carregavas para nossa cama nos cabelos o perfume
Ou se ligasse o rádio e lá tocasse aquela música
que cantavas
Quando à luz
do luar, o sereno vinha sobre nós como pérolas
Um sinal que
me dês com o caminho certo para te encontrar
Seguir um vento vespertino entre as nuvens cinzentas
no céu
A tempestade
que preceda à calmaria d’uma nova primavera
Dar a senha
para retomar o sonho do ponto em que acordei
Só um breve signo e alçarei voo para pousar entre tuas coxas
Minha boca deitará sobre a tua e tornaremos a noite
infinita
Pois que de carne e beijo é que tua lembrança reside em mim
terça-feira, março 11
Antídoto / Antidoto / Antidote
Os livros tediosos narram histórias inúteis e poesias baratas
Invadidas por frases enfermas, por lívidos versos
para sofá
Já se tem o quanto baste! Vim a
inaugurar uma nova poesia
Pronta a ser
proibida, a escandalizar vocábulos intencionais
Desnuda de cobiças, proposta nuclear para ouvidos finos
Não venha imaginar que
me tornei poeta, por cair do céu
Poeta, sou quântico tal todo homem na terra, um não anjo
De versos imersos em ozônio e aranhas a
circundar moscas
Um novo arco nos
céus, abraçador e destruidor de ídolos
O poeta que tatua na testa a marca de ser não decorativo
Antes, saído do sonho,
a andar entre homens tal fosse um
Um poeta para o
cotidiano, de presença nas ruas e praças
Onde sente e
converse com transeuntes, inovando as letras
Palavras d’uma nova
gênese, vigilantes, de punhos cerrados
A ilusão criada,
mordida a frio, verdade que vem a galope
Tenho como espaldares, correias de arado
a semear o grão
Deito, sem angústia, carícias maternais que tocam a terra
Pois, que me diga aquele que julgar que estou equivocado
Eu o retrucarei com minha estrofe nua, à face da alvorada
Cuspindo fora o que haja de amargo, reescrevendo nuvens
E jamais me quedarei
aos pés da república para ser aceito
Pois que me oponho à liberdade seletiva ou de conta-gotas
Dos que a vendem por uns poucos centavos aos coiotes
Há dez anos convivo
com a morte sem suspiros e lágrimas
Olho aberto noite e dia e não serei surpreendido pelo fim
Sou anti-espelho
de meu tempo, a antítese de caudilhos
Meu poema é, apenas,
antidoto aos que sofrem de silêncio
Los libros aburridos cuentan historias inútiles y
poemas baratos.
Invadido por frases enfermizas, por versos marchitos
para el sofá
¡Ya tenemos suficiente! Yo llegué a inaugurar esta
nueva poesía
Dispuesto a ser prohibido, a escandalizar palabras
intencionadas
Despojada de avaricia, una propuesta nuclear para oídos
delgados
No vengas a imaginarte que me torné en poeta
cayendo del cielo
Poeta, yo soy cuántico como todo hombre de la
tierra, un no ángel
De versos sumergidos en ozono y las arañas asediando
las moscas
Un nuevo arco en los cielos, abrazando y
destruyendo fetiches
El poeta que se tatúa en la cara lo timbre de ser no decorativo
Antes, saliendo del sueño, caminando entre los
hombres como un
Un poeta para la vida cotidiana, con presencia en
calles y plazas
Donde te sientas y charlas con los transeúntes,
innovando las letras.
Palabras de una nueva génesis, vigilantes, con los
puños cerrados
La ilusión creada, mordida fría, verdad que viene
galopando
Tengo como respaldos correajes de arado para
sembrar el grano
Me acuesto, sin angustia, caricias maternales que
tocan la tierra
Bueno, que quien recapacite que estoy equivocado
me lo diga.
Te responderé con mi estrofa desnuda, al frente de
la alborada
Escupiendo todo lo acerbo, reescribiendo por los nubarrones
Y jamás subsistiré a los pies de la república para
ser aceptado
Puesto que me opongo a la libertad selectiva o del
cuentagotas
De los que se la trasfieren por meros centavos a
los coyotes
Durante diez años he vivido con la muerte sin
suspiros ni lágrimas
Mantengo los ojos abiertos noche y día y no me
sorprenderé al final
Soy el anti espejo de mi tiempo, antítesis de los ‘honrados’
caudillos
Mi poema es sólo un antídoto para los que sufren
por el silencio.
Tedious books tell useless
stories and cheap poems
Invaded by sick phrases,
by livid verses for the sofa
We already have plenty! I
have come to install a new poetry
Ready to be outlawed, to
scandalize intentional words
Naked of greed, a nuclear
proposal for fine ears
Don't come imagining that
I became a poet, by falling from the sky
Poet, I am quantum like
every man on earth, a non-angel
Of verses immersed in
ozone and the spiders’ circling flies
A new arch in the heavens,
embracer and destroyer of idols
The poet who tattoos on
his forehead the mark of no decorative
Rather, emerging from the
dream, to walk among men as if he were one
A poet for everyday life,
with a presence in the streets and squares
Where he sits and talks
with passersby, innovating the letters
Words of a new genesis,
vigilant, with scrunched handfuls
The illusion created,
bitten cold, truth that comes galloping
I have as backrests, cultivator
straps to spread the grain
I lie down, without
anguish, maternal caresses that touch the earth
Well, let everybody who
thinks I'm mistaken tell I personally
I'll retort with my naked
stanza, in the face of dawn
Spitting out whatever is
bitter, to rewriting the clouds
And I'll never stay at the
feet of the republic to be accepted
Because I'm opposed to
selective or dropper freedom
Of those who’s selling it
for a few cents to the coyotes
For ten years I've lived
with death without sighs or tears
I keep my eyes open night
and day and I won't be surprised by the end
I'm the anti-mirror of my
time, of the honorable caudillos
My poem is just an
antidote to those who suffer from silence
sexta-feira, março 7
Universo
Tua presença
em mim, bem assim, tua figura indelével
Se escreve como a paixão que não me deixa a caneta
Que vem povoar meus sonhos que se sonha sem saber
Saídos de uma
pintura de Dali nos dias mais chuvosos
Uivo qual lobo à lua cheia, se tento teu nome chamar
Nestes
trópicos onde lembrar de ti é a melhor carícia
Tenho sede, mas também medo
de me afogar nesse rio
Vem meu anjo, vem saciar a sede de teu eterno menino
Vem mergulhar nos rios de meus sonhos, vem me salvar
Lembra de nosso riso lavado, nosso abraço apertado
Onde a palavra
no poema é a palavra que diz do amor
Se repita uma e uma segunda vez, porque é belo amar
E repita mais
outra vez, porque o amor não tem dono
Seja no sonho e na vida, na chuva vespertina de verão
E quando a noite vir, brilhem cortejos
de vagalumes
Pelo não dito e pelo dito com as pupilas cintilantes
Os meridianos e paralelas, a caminhar entre moinhos
E se apagarem sóis, mundos e estrelas, não meu verso
Por todos eclipses, por ti orbitará todo meu universo
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